29conceito de memória de trabalho refere-se ao sistema de armazenamento temporário e de processamento de informações envolvido nas diversas atividades cognitivas complexas que realizamos. De acordo com seu modelo mais utilizado, a memória de trabalho é formada por um processador com capacidade de atenção limitada, o executivo central, que controla três subsistemas armazenadores. Informações de natureza verbal são armazenadas pelo laço fonológico, um sistema duplo formado por um armazenador passivo baseado em códigos acústico-fonológicos e por um sistema ativo de recitação que impede o decaimento desses códigos. Informações referentes aos objetos e às relações espaciais entre eles são armazenadas pelo esboço visuoespacial, também considerado um sistema duplo formado por um armazenador visual e por um sistema ativo, responsável por manter informações visuoespaciais (Logie, 1995). Por fim, o buffer episódico proporciona uma interface entre os armazenadores verbal e visuoespacial, integrando e armazenando em representações complexas as informações provenientes dos subsistemas e da memória de longo prazo (Baddeley, 2000;.A divisão da memória de trabalho em subcomponentes especializados baseia-se em evidências empíricas que incluem déficits específicos em pacientes com lesões cerebrais (Della Sala; Logie, 1999), por diferentes taxas de desenvolvimento da memória verbal e visuoespacial observadas em estudos com crianças (Hitch, 1990;Logie;Pearson, 1997) e pelos efeitos de interferência seletiva no armazenamento de informações de diferentes modalidades (Baddeley, 1986; Logie, 1995). Estudos centrados na dissociação dupla também foram importantes na fragmentação da memória de trabalho. Esse método permite supor que uma dada função A é separada ou dissociada de uma função B se existirem pessoas com deficiências na função A mas função B preservada, e pessoas com a função A intacta e deficiências na função B (Shallice, 1988). Por exemplo, De Renzi e Nichelli (1975) identificaram dois grupos de pacientes com lesões cerebrais, um grupo com déficit de memória verbal e memória espacial preservada, e o outro grupo com o padrão inverso, memória verbal intacta e déficit de memória espacial. Essa dissociação dupla, confirmada em outros estudos (por exemplo, Basso et al., 1982;Hanley et al. 1991; Logie, 1986), suporta a subdivisão entre dois sistemas de armazenamento temporário, um verbal e outro visuoespacial.