“…Dentre os fatores externos ao campo psiquiátrico, destacam-se tanto o papel da indústria farmacêutica -da Big Pharma -quanto as características da própria sociedade ocidental contemporânea, consumista e imediatista, que busca soluções rápidas e mágicas para problemas extremamente complexos (Oliveira, 2012). Tais fatores também estão diretamente relacionados ao processo de medicalização/psiquiatrização da vida contemporânea (Conrad, 1992;Oliveira, 2012) no realismo metafísico ou essencialismo. A ideia difundida pela psiquiatria e pela sociedade em geral -via mídias de massa -e internalizada pelas pessoas é de que o diagnóstico psiquiátrico diz respeito à própria essência destas (Matos, 2018), o que tem contribuído por exemplo para a construção das chamadas bioidentidades (Ortega, 2008;MArtins, 2008) Dentre algumas consequências positivas, pode-se mencionar o fato de que algumas pessoas ao serem diagnosticadas, por exemplo, com Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade -TDAH -ou transtorno do espectro autista -nível I -ou transtorno bipolar -passam por um processo de ressignificação de suas experiências de vida, até mesmo de toda uma história de vida; aquela pessoa que acreditava ser "burra" (termo utilizado de maneira pejorativa nas práticas sociais discriminatórias), passa a ressignificar sua experiência como alguém que tem um diagnóstico, o TDAH, e que ela não tem qualquer implicação nisto, pois isto resulta de uma "falha" em seu cérebro; da mesma forma, a pessoa que acreditava ser estranha, esquisita, não aceita nos diversos contextos sociais, "descobre" ter autismo (leve); e a pessoa que teve uma vida extremamente turbulenta, com excessos nas relações interpessoais, brigas constantes, rompimentos, que não conseguia manter seus empregos, que se isolava de todos de tempos em tempos etc., "descobre" ter transtorno bipolar.…”