A problemática relação entre as obras de Caio Prado Jr. e Celso Furtado consiste numa das mais interessantes polêmicas de nossa historiografia. Sabe-se que em Formação Econômica do Brasil, principal obra de Furtado, não há referências explícitas à obra de Caio Prado Jr., mesmo que a influência do pensamento do historiador marxista na obra do economista cepalino seja mais do que evidente. A questão, longe de estar pacificada, despertou a atenção de nomes como Chico de Oliveira, Paul Singer, Roberto Schwarz e Tamás Szmerecsányi. Para além da polêmica, parece haver razoável interesse na comparação mais ampla do pensamento de ambos. Partindo daí, o presente trabalho coteja o pensamento dos autores entre dois momentos temáticos bem definidos, o de seus livros de "Formação", de meados das décadas de 1940 e 1950 e o momento da "Revolução", já nos idos da década de 1960. Nesse marco cronológico e temático, procura-se situar os autores no contexto intelectual mais amplo de que fazem parte. O marxismo de matriz comunista, no caso de Caio Prado Jr. e a economia política da CEPAL para Celso Furtado. Em seguida, a comparação é realizada em torno de três eixos temáticos mais amplos. O primeiro, a respeito do uso que realizam da tipologia de contrários das colonizações de exploração e povoamento. O segundo, que trata da maneira como abordam a difícil transição, ainda inconclusa, entre colônia e nação, que em Caio Prado Jr. adquire a forma de "impasses do inorgânico" e em Furtado, nas ideias que levaram à criação da SUDENE. Por fim, compara-se as respostas de ambos ao conturbado contexto político da década de 1960, quando as análises convergem para a defesa de uma Revolução, ou Pré-Revolução, vista não como ruptura, mas como um processo mais amplo de transformação social.