Os estudos sociais da quantificação e suas implicações na sociologia

Abstract

Resumo Este trabalho tem um duplo propósito: por um lado, apresentar a relevância, abrangência e profundidade dos estudos históricos e sociológicos sobre a quantificação; de outro, reconstruir as origens deste campo e as transformações por ele conhecidas ao longo dos últimos anos. Nesse percurso, interessa-nos destacar os vínculos entre os trabalhos que analisaram os processos de raciocinar, valorar, medir e comparar com números e as preocupações clássicas e contemporâneas da sociologia. Com este objetivo, o presente artigo oferece uma ampla revisão da literatura do campo, buscando despertar o interesse da comunidade de cientistas sociais por suas potencialidades heurísticas. Ao mesmo tempo, procura-se compilar as contribuições dos estudos sociais da quantificação à sociologia como um todo. A primeira seção apresenta um relato histórico sobre a formação desta perspectiva de análise, suas principais obras de referência e aportes mais significativos. A segunda seção discute as razões pelas quais entendemos que a sociologia deveria ampliar sua atenção para as operações e os regimes de quantificação nas sociedades contemporâneas. Além disso, examina as contribuições que o campo tem a oferecer para a reflexão sobre as questões nodais da disciplina, como o problema dos fundamentos da ordem social e da autoridade política, os processos de diferenciação social e configuração de subjetividades, a participação social, a crítica e a agência social transformadora.

Introduction

“…A more recent surge in the reflexive study of numbers has brought a renewed interest in the politics behind numeric governance (Alonso and Starr 1987;Berman and Hirschman 2018;Bruno et al 2016;Camargo and Daniel 2021;Diaz-Bone and Didier 2016;Espeland and Stevens 2008;Mennicken and Espeland 2019;Mennicken and Salais 2021). Yet politics can take on quite distinct meanings in a field 'still very far from having general claims or a common theoretical language' (Berman and Hirschman 2018: 258).…”

La politique des grands nombres et les grands nombres de la politique dans la pandémie

“…Le débat public et idéologique autour des experts, des universités et des institutions publiques qui produisent ces chiffres -déjà central depuis la campagne électorale de 2018 -l'est encore plus depuis l'éclatement de la pandémie. Comme l'indiquent les travaux de sciences sociales sur la quantification, l'examen de ces données, en constantes transformations, nous aide à mieux saisir des processus sociaux plus vastes (Hacking, 1990 ;Porter, 1995 ;Desrosières, 2008 ;Espeland et Stevens, 2008 ;Diaz-Bone et Didier, 2016 ;Camargo et Daniel, 2021). Au Brésil, sous la présidence de Bolsonaro et plus encore pendant la pandémie, c'est sur le terrain des statistiques que de nombreux conflits s'expriment.…”