O artigo apresenta os resultados de uma pesquisa em curso sobre as estatísticas de Covid-19 durante o primeiro ano da pandemia (março de 2020 a fevereiro de 2021) na qual se investigou a relação recíproca entre os números sobre a doença e a própria pandemia como experiência coletiva, com ênfase no caso brasileiro. Na análise são privilegiados três aspectos: a estética, as temporalidades e as controvérsias. A periodização proposta considera a forma como os números são apresentados e participam na construção da pandemia, a existência de três momentos, com características distintivas entre si. A noção de emergência serve para salientar a articulação entre o momento de crise e o afloramento das formas de quantificar. Demonstra-se que a pandemia, longe de infligir uma ruptura inteiramente nova na experiência social, constitui uma articulação original entre elementos que já existiam antes de sua eclosão, envolvendo, entre outros aspectos, as tensões opondo vida e economia, a complexificação do circuito de produção de dados e a retroação dos números públicos sobre a agência social.
Este é um artigo de acesso aberto, licenciado por Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional (CC BY 4.0), sendo permitidas reprodução, adaptação e distribuição desde que o autor e a fonte originais sejam creditados. Resumo: O presente texto realiza uma análise do discurso da primeira contagem exaustiva da população brasileira e das suas condições institucionais de produção. Inicia pelo exame do censo visto de dentro, isto é, a partir dos serviços litúrgicos que viabilizaram a operação censitária e das escolhas que levaram à construção de uma utopia estatística para um Império que queria se mostrar externamente poderoso e civilizado. Como mostrou a historiografia com que aqui dialogamos, a inclusão de categorias centrais assumiu um sentido original, de maneira a produzir uma população internamente hierarquizada (pela "condição" e pela "profissão") e homogênea (pela "língua" e pela "religião"), espelhando as clivagens por meio das quais as elites imperiais se viam e imaginavam o país e sua gente. O artigo pretende contribuir para esta discussão, fazendo uso de documentação administrativa, diplomática e legislativa, obras de memória estatística e fontes ainda pouco conhecidas, como os três únicos boletins de família preenchidos e preservados do censo de 1872, para realçar a distância entre a lógica presente no preenchimento dos questionários e os procedimentos de tabulação dos resultados, especialmente na "condição" e na "profissão". Para examinar esta distância, assume como hipótese que o olhar do recenseador ainda não se encontrava disciplinado por protocolos observacionais, o que dependeria do trabalho infraestrutural realizado pela autoridade política centralizada. Por fim, examina as inovações do censo à luz da tradição estatística do Império, marcada pela persistência das estimativas populacionais-iniciativa de particulares cuja fonte de autoridade se encontrava no prestígio pessoal de seus realizadores-, aqui analisadas como um registro de verdade que rivalizava com a credibilidade da estatística oficial. Palavras-chave: estudos sociais da quantificação, construção do Estado, história da ciência.
This article presents the possibilities for investigation unveiled by the sociology of statistics. Of particular importance in the area of demand is the power to provide the fundamentals used in government technologies in nation states (political domain). In terms of the use of statistics, the role in forming the categories of perceptions of reality (cognitive domain) is highlighted. Within the scope of production (institutional domain), it is important to emphasize the organization of the activity into different temporal categories. The tensions between the technical/normative advances recommended by scientific associations and the pragmatic requirements of public administration are also examined. This article seeks to provide a brief reflection on the morphology of statistical institutions and their scientific culture.
Este artigo investiga os sentidos assumidos pela classificação racial nos censos brasileiros. Propõe uma análise convergente entre as convenções sociopolíticas estabelecidas para a investigação (1872, 1890, 1940) ou omissão (1920) do quesito racial dos levantamentos, em diferentes momentos históricos, e o processo de emergência da comunidade técnica de estatísticos em meio às mudanças do paradigma censitário. Como método, considera-se a circularidade existente entre o sistema social de classificação racial, as obras intelectuais de interpretação da nacionalidade vinculadas ao suporte censitário - "O povo brasileiro e sua evolução", de Oliveira Vianna (1920), e "A cultura brasileira", de Fernando de Azevedo (1940) - e o papel das exigências técnicas na tomada de posição dos estatísticos. São analisados relatórios de organizadores e comissões censitárias no plano verbal, comparando os argumentos apresentados às formas de execução das categorias e às informações e cruzamentos obtidos no plano matricial. Toma-se o censo de 1940 como ponto de inflexão na organização da atividade por acentuar o conflito estrutural entre a função prioritariamente política, até então reservada às estatísticas, e a consagração da competência técnica de seus produtores. Nesses termos, este trabalho aborda a progressiva liberação da ideologia estatística frente aos mecanismos da propaganda política sobre a cor.
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