Os Munduruku e as “cabeças-troféu”

Abstract

A mumificação de corpos humanos ou de suas partes é uma prática cultural em todo o mundo. Nesse contexto, a mumificação de cabeças humanas, para a confecção de troféus de guerra, teve um importante significado na cultura de vários grupos humanos. Na América do Sul, os Shuar ou Jívaro e os Munduruku, estes últimos na Amazônia brasileira, destacaram-se nessa prática. No caso dos Munduruku, as cabeças-troféu são extraordinários exemplos de mumificação por defumação e pelo uso de substâncias vegetais. Possuíam grande valor simbólico e espiritual para os guerreiros que as obtivessem e preparassem, após as batalhas, como parte de um complexo ritual de confirmação de força e de prestígio. Relacionadas culturalmente à fertilidade, à reprodução e à sobrevivência do grupo, essas cabeças, hoje em Museus, têm sido pouco estudadas. A partir da análise de um exemplar do acervo do Departamento de Antropologia do Museu Nacional, Rio de Janeiro, foi possível confirmar uma série de relatos da literatura e a autenticidade deste espécime.

Digitalización de las cabezas momificadas del Museo de Arqueología y Etnología de América de la Universidad Complutense de Madrid

“…La existencia de cráneos para su uso como culto a las "cabezas trofeo" está bien documentado en otros lugares de Sudamérica, incluso como práctica "masiva" (Browne et al 1993), pero los estudios sobre "cabezas trofeo" Munduruku proceden fundamentalmente de Brasil (Santos et al 2007) y Portugal (Souza y Martins 2004). Dentro de esta clasificación de "cabeza trofeo" se podría incluir la cabeza reducida Shuar.…”

A prática de individualização de crânios e de decapitação na região de Lagoa Santa durante o Holoceno Inicial (Brasil)

“…Os índios munduruku do rio Tapajós, que seguem se opondo de forma altiva aos avanços nefastos e inconstitucionais da agenda desenvolvimentista nacional (Pugliese & Valle 2015), costumavam decapitar o inimigo derrotado imediatamente após a morte (Kruse 1934;Hartt 1881;Von Ihering 1907;Gabarain 1962;Leopoldi 2007;Menget 1993;Santos et al 2007;Murphy 1957). O troféu era, então, trazido para a aldeia e ao longo de anos tornava-se foco de uma série de cerimônias (Leopoldi 2007;Santos et al 2007).…”

“…Os índios munduruku do rio Tapajós, que seguem se opondo de forma altiva aos avanços nefastos e inconstitucionais da agenda desenvolvimentista nacional (Pugliese & Valle 2015), costumavam decapitar o inimigo derrotado imediatamente após a morte (Kruse 1934;Hartt 1881;Von Ihering 1907;Gabarain 1962;Leopoldi 2007;Menget 1993;Santos et al 2007;Murphy 1957). O troféu era, então, trazido para a aldeia e ao longo de anos tornava-se foco de uma série de cerimônias (Leopoldi 2007;Santos et al 2007). Para os munduruku, a cabeça dos inimigos derrotados servia claramente ao papel de troféu de guerra e 1 Esta seção apresenta uma versão traduzida e ligeiramente adaptada da revisão originalmente apresentada em inglês por Strauss et al, 2015. símbolo de superioridade bélica (Menget 1993;Murphy 1957;Von Ihering 1907).…”

The Oldest Case of Decapitation in the New World (Lapa do Santo, East-Central Brazil)

“…The spine was sectioned near the foramen magnum and the head removed. The internal muscles, brain, eyes and tongue were then removed [ 16 ] and the head mummified through immersion in hot oil and subsequent smoking [ 15 ]. The trophy would be brought to the village and designated as the focus of a series of ceremonies over several years.…”

“…Although the Munduruku would remove other body parts of their own dead, they only produced trophy heads with enemies. The enemy’s children were commonly captured and incorporated into the community but never used to generate trophy heads [ 15 ].…”