Resumo"Personagens gostam da vida, como nós" é um depoimento de Lygia Fagundes Telles dado ao jornal Estado de S. Paulo no dia 12 de outubro de 1995, vinte e dois anos após a publicação de seu terceiro romance, As meninas. Nele, a autora afirma que não poderia escrever um "romance morno" em pleno período ditatorial: o Brasil vivia no início dos anos 1970 os Anos de Chumbo do regime militar e, como "testemunha de seu tempo e sociedade", a Lygia Fagundes Telles afirmou ter usado a palavra como instrumento de luta e resistência às medidas autoritárias do governo. Em 2009, quando o romance foi reeditado pela Companhia das Letras, o depoimento da escritora foi inserido no livro, e o texto de orelha da primeira edição, de 1973, assinado por Paulo Emílio Sales Gomes, voltou a aparecer em uma edição do romance. Conforme o estudo de Genette ( 2009), a existência de um elemento paratextual, como são o depoimento e o texto de orelha, não é simplesmente estética, mas, sim, funcional. O presente artigo, portanto, visa discutir como Miguilim -Revista Eletrônica do Netlli | v. 10, n. 1, p. 301-313, jan.-abr. 2021 os elementos paratextuais se integram à estrutura do romance e constroem uma visão de resistência a um regime autoritário, além de legitimar as posições políticas e ideológicas da autora, contrapondo ao discurso autoritário a pluralidade de vozes e o direito à escolha.