“…Da "década do cérebro" às conjeturas da "big science" e dos cálculos preditivos da "big data", à localização de um "espectro neurocultural", um universo em expansão (Vidal e Ortega, 2011), o livro percorre em seus quatro capítulos, territórios que partem da neuroascese (a autodisciplina cerebral). No primeiro capítulo, seguindo o panorama das "neurodisciplinas"; no segundo, rumo ao entendimento da "cerebralização" do sofrimento psíquico, um território em disputa; e, finalmente, encerrando suas análises no quarto capítulo, em que os autores destacam os ravinamentos do neuro na cultura popular, campo este que também é permeável por uma tensão instável possivelmente advinda de ambivalência estrutural inerente ao sujeito dito cerebral (Rose e Abi-Rached, 2014;Rose, 2019;Carvalho et al, 2020) Em suma, um livro bem escrito, uma leitura lúcida da ideologia do neuro (p. 16) como uma realidade social, cultural e psicológica, trazendo um panorama ampliado dessa temática polimórfica. Finalizo com seu triplo argumento: o neuro toca em noções de pessoa e de identidade pessoal, e como objeto de pesquisa, a cerebralização dele decorrente é um pressuposto subjacente determinante ao modo como a pesquisa é feita, interpretada e divulgada, e consequentemente, a "cerebralização" torna-se uma espécie de tecido conectivo, um leito de rocha mais ou menos solapado, mais ou menos exposto às intempéries da paisagem biopsicossocial.…”