O presente artigo tem o objetivo de descrever a trajetória diacrônica do conector complexo com isso, empregado ora como sequenciador, ora como conector lógico-semântico ou discursivo-argumentativo no português brasileiro contemporâneo (LOPES; SILVA, 2022). Para esse fim, recorremos aos pressupostos teóricos da Linguística Funcional Centrada no Uso (CUNHA et al., 2013; OLIVEIRA; ROSÁRIO, 2016), em especial ao modelo da construcionalização e das mudanças construcionais (TRAUGOTT; TROUSDALE, 2013), cuja finalidade principal é a descrição histórica da língua sob viés construcionista. A nossa hipótese inicial foi a de que o adjunto adverbial com isso passou, ao longo dos séculos, por mudanças construcionais que favoreceram sua posterior construcionalização como conector (supra)oracional. Essa hipótese foi testada por meio da análise mista (LACERDA, 2016; LOPES, 2022) de 442 ocorrências, dos séculos XV ao XXI, extraídas dos seguintes corpora: Vercial, Tycho Brahe e Now. Os resultados desta pesquisa revelam a seguinte trajetória de com isso: 1) O adjunto adverbial começou a ser anteposto a seu subordinador, mas ainda bastante vinculado a ele sintática e semanticamente; 2) o adjunto adverbial anteposto começou a ser justaposto a um conector canônico, em especial o “e” – “e com isso” –, contexto favorável a que herdasse progressivamente traços de conexão;3) com isso tornou-se um conector autônomo, na medida em que passou a atuar na margem esquerda da oração, do período ou do parágrafo, sem que fosse necessária sua justaposição a um outro conector.