Resumo Este artigo analisa biografias de três mulheres ribeirinhas que têm como base investigativa os seus papéis sociais no cuidar através da medicina tradicional. Seus ‘relatos de vida’ transparecem as suas próprias percepções na construção e reconstrução de suas práticas de cura no enfrentamento de doenças, sempre levando em consideração as interações construídas com o meio e com tradições religiosas – dentre as quais se destacam a pajelança, o catolicismo e o pentecostalismo. As ilhas belenenses do Murutucum e do Combu são os ambientes antropogênicos nos quais as especialistas residem e atuam, ecossistemas de deságue hidrográfico de diversos rios paraenses e uma pequena parte do rio Amazonas no oceano Atlântico. As tipologias de curas tradicionais presentes nas ilhas foram analisadas a partir das narrativas destas três especialistas, num período de quase dois anos, com incursões, entrevistas e diversos tipos de observações in situ. Ao final, pode-se perceber que o quadro social e ambiental, bem como as diferentes expressões religiosas manifestas influenciam diretamente no diagnóstico e no tratamento terapêutico proposto por essas mulheres – que, apesar de habitarem o mesmo ecossistema e integrarem um grupo social comum, possuem saberes distintos, contudo, complementares.