A gravidez pode ser encarada como um processo que se associa com transformações biológicas, fisiológicas, psicológicas e sociais que ocorrem ininterruptamente. É um momento de crise e de crescimento que pode ser extremamente enriquecedor para a mulher. Como refere Justo (1994), a gravidez pode ser vista como uma situação de preparação física e psicológica para o papel de mãe, onde tem início o relacionamento mãe-filho. Este último aspecto é salientado por Wertheim e Morris (1987), ao afirmarem que o desenvolvimento embrionário e fetal, e o desenvolvimento da relação parental ocorrem em sintonia se tudo estiver a decorrer normalmente.Bibring, Dwyer, Huntigton e Valenstein (1961) referem, num artigo clássico sobre os aspectos psicológicos da gravidez, que esta pode ser encarada como um período de crise maturacional, determinada sobretudo biologicamente, como a puberdade ou a menopausa, envolvendo modificações endócrinas, somáticas e psicológicas. «Estas crises representam passos importantes no desenvolvimento e têm em comum uma série característica de fenómenos psicoló-gicos. Nos 3 períodos novas tarefas adaptativas e libidinais confrontam o indivíduo.... As 3 crises parecem fazer reviver os conflitos não resolvidos de períodos anteriores do desenvolvimento que requerem soluções novas e diferentes» (p. 12). São pontos de viragem na vida do indivíduo. Nestas situações verifica-se uma interdependên-cia entre modificações biofisiológicas e psicoló-gicas, sendo o processo adaptativo inevitável e a mudança irreversível; uma vez mãe já não se pode deixar de sê-lo (Bibring et al., 1961). Como afirma Justo (1994), «seja qual for o resultado de uma gravidez... na vida da mulher ou do casal, nada vai voltar a ser como antes» (p. 108). Segundo Bibring et al. (1961), a adaptação à fase de vida que se inicia com a crise, (maternidade no caso da gravidez), depende da resolução dessa crise, isto é, da «reorganização maturacional do desequilíbrio» (p. 12). A natureza deste desequilíbrio é responsável, segundo estes autores, pela facilidade com que a grávida elege uma figura de transferência e pela facilidade com que a psicoterapia promove uma estabiliza-
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