A literatura tem referido que a prematuridade do bebé gera nas mães níveis mais elevados de ansiedade, sentimentos depressivos, assim como níveis mais baixos de autoestima, comparativamente com mães de bebés de termo, o que poderá conduzir a um envolvimento emocional mais negativo com o recém-nascido. Essa vivência parece variar em função da paridade das mães (i.e., mãe pela primeira vez vs. multípara) não obstante não serem muito claras as particularidades desta variável. Este estudo teve como objetivo analisar num grupo de mães primíparas e multíparas com bebés prematuros, as associações entre o estado Psicoemocional, a Autoestima e o Bonding maternos. Participaram 50 mães (27 primíparas e 23 multíparas), com bebés pré-termo recrutados numa maternidade pública de Lisboa. Os resultados indicam que as mães multíparas apresentam níveis mais elevados de Sentimentos Depressivos expressando, também, uma maior Capacidade e Preparação Geral para a função materna. A Capacidade Geral para tratar do bebé surge associada de forma negativa com o seu estado Psicoemocional e de forma positiva com o Bonding. As associações negativas encontradas entre Ansiedade e Aceitação do bebé, e entre Estado Psicoemocional e Bonding não parecem variar em função da paridade, mostrando que os desafios se colocam a ambos os grupos de mães.
Palavras-chave:Paridade, Prematuridade, Bonding, Estado psicoemocional, Autoestima materna.
Introdução
Nascimento e prematuridadeDiversos autores têm demonstrado o impacto que as relações pais/criança e em particular a qualidade das mesmas têm ao nível do desenvolvimento sócio-emocional e cognitivo, não só nos primeiros anos de vida como, também, ao longo do ciclo vital (Bowlby, 1998). Desta forma, não só do ponto de vista académico como, também, no âmbito do trabalho de prevenção e intervenção psicossocial com as famílias, a compreensão dos fatores protetores e de risco devem ser alvo de estudo.Neste trabalho centramo-nos nos fatores de risco, com particular saliência na prematuridade do bebé. A prematuridade (nascimento antes das 37 semanas de gestação) constitui-se hoje como a causa mais prevalente da morbilidade e mortalidade infantis nos países industrializados (WHO, 2012), contando com uma incidência mundial de 11.1% e nacional de 7.8% em 2012 (INE, 2013). A investigação em torno deste fenómeno tem procurado perceber quais as implicações que o nascimento de um bebé prematuro pode acarretar no desenvolvimento da relação e nas interações
265A correspondência relativa a este artigo deverá ser enviada para: Joana Dias Alexandre, ISCTE-IUL,