Perfil da leishmaniose cutânea americana na Amazônia Sul-Ocidental brasileira: uma abordagem multivariada

Abstract

Justificativa e Objetivos: A Leishmaniose Cutânea Americana (LCA) é uma doença de cadeia de transmissão complexa sujeita a diversos determinantes, em uma mesma região. Este estudo teve como objetivo analisar o comportamento e determinar o perfil epidemiológico da LCA em uma região da Amazônia Sul-ocidental utilizando técnicas de análises multivariadas. Métodos: Utilizou-se as informações do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), 2001 a 2010,para o estado do Acre e técnicas de análises de agrupamento hierárquico e de componentes principais.Resultados: Foram analisados um total de 10.984 casos de LCA e discriminados três grupos. O primeiro grupo se destacou por apresentar maior porcentagem de indivíduos do sexo feminino, com predominância da forma clínica mucosa, idade até 20 anos, que residiam e trabalhavam em áreas rurais e florestais; o segundo grupo foi discriminado por agrupar indivíduos do sexo masculino, com forma clínica cutânea, idade superior a 40 anos de idade, que residiam e trabalhavam em áreas urbanas; o terceiro grupo foi constituído por indivíduos do sexo masculino, forma clínica cutânea, idades entre 20 e 40 anos, que residiam e trabalhavam em áreas rurais. Conclusão: Há evidências que para cada tipo de transmissão de LCA florestal, urbano e rural, exista um perfil epidemiológico correspondente e as técnicas de análises multivariadas foram eficientes em destacar o comportamento da LCA relacionando-os ao perfil dos indivíduos acometidos.

Leishmaniose tegumentar na Amazônia: perfil atendido em serviço especializado no Acre, Brasil

“…Contudo, dentre os pacientes analisados, houve predomínio no acometimento de adultos do sexo masculino, assim como descrito no Pará (CARDOSO et al, 2015) e no Amazonas (GUERRA et al, 2015), estados também pertencentes à região amazônica. A prevalência da faixa etária de 11 a 20 anos é similar ao demonstrado por RIBEIRO et al (2018) em todo o estado do Acre, embora seja um pouco discrepante de outras localidades que encontraram maiores porcentagens entre as 2ª e 3ª décadas de vida (OLIVEIRA et al, 2016;SANTOS et al, 2016). Esse perfil observado, por conter idade e sexo característicos da população economicamente ativa, indicam um padrão de transmissão extradomiciliar.…”

“…No presente estudo, esta análise não foi viabilizada devido à falta de dados sobre ocupação nos prontuários, estando disponíveis em apenas 46,6% (n = 130). Esta perda corrobora o exposto em estudo anterior realizado no Acre (RIBEIRO et al, 2018), no qual foram utilizadas informações do SINAN. Tal situação sugere uma deficiência no preenchimento das fichas de notificação e prontuários médicos em diferentes níveis de assistência do Sistema Único de Saúde (SUS), incluindo as atenções primária e a secundária representadas, respectivamente, pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação e pelo SAE.…”

“…Apesar da esperada relação entre a leishmaniose tegumentar e ambientes rurais, justificada pela proximidade ao vetor (BRASIL, 2017), Dias et al, (2007) descreve um processo de urbanização que afeta espécies de flebotomíneos e, consequentemente, ocasiona uma possível alteração do cenário endêmico. Esse fenômeno relaciona-se a laborações florestais, como atividades extrativistas e desmatamento (RIBEIRO et al, 2018), existentes no Acre. Sabe-se, também, que a proximidade de matas e rios aos domicílios, como visualizado na malha urbana acreana, constitui um fator de risco.…”

“…A população acreana é composta por 733.559 habitantes (2010), sendo desta 72,56% pertencente a área urbana. O índice de desenvolvimento humano (IDH) estimado em 2010 para a população geral do estado era de 0,663 (GOVERNO DO ESTADO DO ACRE, 2017;RIBEIRO et al, 2018;IBGE, 2020).…”

“…Nesse contexto, a emergência da LTA na região amazônica relaciona-se com a variação no padrão epidemiológico da doença, previamente limitada a zonas florestais e atualmente presente em zonas peridomiciliares (DA SILVA-NUNES et al, 2008). Esse processo é estabelecido no Norte através de atividades como o extrativismo, o desmatamento e demais práticas de desarranjo ecológico ocasionadas por ação antrópica, que resultam em alterações no ciclo do vetor da leishmaniose (RIBEIRO et al, 2018).…”