IntroduçãoEste artigo busca refletir sobre o fazer etnográfico a partir da experiência de campo com migrantes brasileiros no Japão.1 Pressupomos que a etnografia não seja somente um método, pois, além de ser uma teoria, ela implica também uma forma de ser e estar no mundo (Peirano 2014). O fazer etnográfico está presente no dia a dia do etnógrafo onde quer que se manifeste sua capacidade de estranhar. Dessa forma, é quase impossível delimitar o trabalho etnográfico e saber precisamente onde ele começa e onde termina, bem como sua extensão no tempo e no espaço. A experiência etnográfica está dentro de nós. Os fatos vividos no campo há anos, por exemplo, podem ser relembrados ou reinterpretados constantemente, com base em anedotas ou em uma nova forma de pensá-los ou concebê-los.Neste artigo cabe uma ressalva: trata-se de um diálogo teórico-afetivo que já dura 20 anos. Nele, Regina Yoshie Matsue -aqui frequentemente denominada "a primeira autora" -realizou a pesquisa etnográfica, a concepção e a revisão do artigo. Pedro Paulo Gomes Pereira, por sua vez, participou da concepção teórica, do planejamento geral do texto, além da redação e da revisão final do artigo, o que pode ser percebido por formas verbais e pronominais características da primeira pessoa do plural. O processo aqui utilizado revela, portanto, que afecções e afetos possibilitaram a construção conjunta do texto.A primeira autora revisitou o trabalho de campo realizado no Japão de 1998 a 2006, especialmente em algumas cidades localizadas no nordeste e noroeste da região de Kanto.2 Nesse resgate, elementos biográficos da ordem dos afetos e dos sentidos foram incorporados na interpretação etnográfica.