Perspectivas Analítico-Comportamentais sobre a homossexualidade: análise da produção científica

Abstract


 Pesquisadores como Skinner e Holland escreveram sobre as possibilidades de a análise do comportamento ser útil na superação de problemas sociais relevantes, como o racismo e o sexismo. Levando em consideração a relevância social do tema homossexualidade e a produção tecnológica e científica da análise do comportamento para o auxílio de indivíduos e/ou na análise de questões sociais relevantes, o objetivo deste trabalho foi analisar a produção científica da área sobre as questões ligadas à homossexualidade, ressaltando o que foi pesquisado, as possíveis contribuições da área, e as lacunas que poderão ser preenchidas em estudos futuros. As palavras-chave “homossexualidade”, “orientação sexual”, “heterossexualidade” e “bissexualidade” foram buscadas em 13 periódicos da área, nacionais e internacionais. Quatro artigos foram encontrados. De maneira geral, os artigos se propuseram a analisar a homossexualidade ou a homofobia/preconceito sexual a partir de contingências de reforçamento e punição às quais os indivíduos podem ter sido submetidos, ou analisar as possíveis “causas” biológicas da homossexualidade. Análises funcionais de comportamentos considerados preconceituosos e estudos sobre o uso de piadas e/ou outros comportamentos potencialmente discriminatórios como práticas reforçadas pela comunidade verbal são exemplos de lacunas da área que podem ser abordadas em pesquisas futuras.

Análise do comportamento e população LGBT: revisão das produções de pós-graduação no Brasil

“…Foi observado que nenhuma das dissertações analisadas apresentam uma visão patologizante da homossexualidade, bissexualidade e da transexualidade. Nesse sentido, é possível afirmar que as produções da Análise do Comportamento na pós-graduação não consideram tais aspectos da sexualidade como sendo distúrbios ou doenças, corroborando com Mizael (2018), não focando na elaboração de técnicas que busquem reverter ou reorientar a sexualidade dos indivíduos. Ademais, é possível deduzir que a produção nacional, assim como apontado por Carvalho, Silveira e Dittrich (2011) por meio da retirada da homossexualidade da Classificação Internacional de Doenças em 1973, segue a tendência de não considerar como patológicas as orientações sexuais e identidades de gênero não cisheteronormativas, fator que vai de encontro com a decisão do Conselho Federal de Psicologia (1999; 2018) e Organização Mundial da Saúde (World Health Organization) (2018).…”

“…Orientação sexual diz respeito à atração afetivo--sexual, a qual é selecionada no repertório do indivíduo, considerando-se variáveis filogenéticas, ontogenéticas e culturais (Mallot, 1996;Mizael, 2018). Tal noção também já foi exposta por Kinsey, Pomeroy e Martin (1948), ao exporem que o comportamento sexual humano é complexo, e que seu estudo não pode ser separado de profunda análise cultural, levando em conta aspectos como política, jurisdição e religiosidade das sociedades.…”

“…Em suma, cinco dos artigos indicavam técnicas que tinham como objetivo a reversão do comportamento homossexual e/ou transexual, na medida em que os demais apresentam críticas a respeito deste procedimento. Mizael (2018) elaborou uma segunda revisão da literatura. Foram pesquisados 13 periódicos, nacionais e internacionais, responsáveis por publicações analítico-comportamentais, recuperadas as publicações que apresentavam a temática "homos-sexualidade" como central e sem uma visão patologizante, resultando em três artigos.…”

“…Desta forma, seria possível afirmar, pelo descrito por Carvalho, Silveira e Dittrich (2011), Fazzano e Gallo (2015) e Mizael (2018), que a produção da Análise do Comportamento, internacional e principalmente nacional, pouco tem-se dedicado à temática LGBT 1 . Porém, antes de conduzir a esta conclusão, torna-se importante ressaltar que a busca realizada pelos autores nestes estudos foi apenas com artigos publicados, não contemplando a produção científica de programas Stricto Sensu de pós-graduação.…”

A Análise do Comportamento e a Intersexualidade

“…A Análise do Comportamento já estudou outros comportamentos sexuais humanos, como a homossexualidade, a transexualidade e a heterossexualidade (por exemplo, Malott, 1996), a homofobia (por exemplo, Fazzano & Gallo, 2015), a homossexualidade ( eg. Mizael, 2018), disfunção sexual feminina (por exemplo, Machado, 2015), sexualidade na terceira idade (Araújo & Zazula, 2015), havendo uma lacuna no estudo da intersexualidade no qual este artigo se propõe a analisar.…”