INTRÓITOImagine-se um local onde são as mulheres a mandar. O dinheiro, as propriedades e a riqueza pertencem às mulheres e às suas filhas herdeiras. Não existem maridos, porque não existe matrimónio. As mulheres podem escolher quantos parceiros desejarem e são elas a impor quando, onde e em que condições se dão as relações sexuais. Os filhos são criados pelas mulheres. São estas que trabalham arduamente, muito mais do que os homens, os quais assumem um papel secundário, para tratar de algumas questões políticas da comunidade. O nome da mulher é que se perpetua, não o do homem. Não existe violência ou guerra, pois as mulheres não lhe conferem qualquer valor. O desapego material é, aliás, um predicado deste povo, que prefere viver em harmonia com a Natureza.Com tal descrição, poderia o leitor pensar estar a falar-se das Amazonas ou das Valquírias, se bem que a nota pacifista do texto se opõe ao carácter guerreiro destes povos das mitologias grega e nórdica, respectivamente. De facto, tratase dos Mosuo, uma comunidade de 25 mil pessoas da cidade de Loshui, na província do Yunnan, na China. Os relatos provêm de uma obra não científica, editada em 2008 por um jornalista e médico (Coler, 2008), que viveu alguns meses entre este que é um dos últimos matriarcados do mundo.Arriscando alguma acusação de machismo démodé ou mesmo de misoginia insolente, parece relativamente factual afirmar que, no resto do planeta, as mulheres estão muito aquém da força e estatuto detido pelas suas congéneres Mosuo. Continua a ser raro encontrar mulheres em altos cargos associados, por exemplo, ao poder político ou económico. Aceder a altos postos é muito mais fácil para os homens, mesmo quando estes estão menos preparados a nível de habilitações. Os dados confirmam que o número de mulheres decresce na razão inversa em que se ascende aos mais altos níveis de hierarquia (Nogueira, 2006).Enquanto que a nível de mercado laboral no século XX, a quantidade de mulheres cresceu de forma acentuada, a nível de cargos de gestão e de política, essa evolução tem sido modesta. Os exemplos são relativamente poucos e conhecidos: Margaret Thatcher (primeira mulher britânica a ocupar o cargo de primeiro-ministro),