Ponto De Equilíbrio Entre a Ciência Da Nutrição E “Fat Studies”

Abstract

Ponto de equilíbrio entre a Ciência da Nutrição e "Fat Studies" A balance point between the Science of Nutrition and "Fat Studies" Resumo A preocupação com a aparência física é grande no Ocidente. Contudo, a busca por tais ideais pode desencadear uma insatisfação com a imagem corporal, transtornos alimentares, distúrbios de imagem corporal, visões estereotipadas e atitudes negativas voltadas aos indivíduos fora do padrão valorizado pela mídia. Grupos ligados à sociologia, estudos de gênero e ativismo feminista uniram-se ao debate, constituindo campo do saber interdisciplinar denominado "Fat Studies" (estudos sobre a gordura ou dos "gordos"). O campo muda o olhar dos aspectos fisiopatológicos associados à adiposidade corporal, para a situação desse grupo de pessoas na sociedade. Criticam duramente o modelo biomédico e sua ineficácia no tratamento da obesidade. Por outro lado, pesquisadores da área de saúde preocupam-se com o discurso de que a saúde seria possível com qualquer peso ou percentual de gordura corporal, bastando um estilo de vida saudável. Este artigo explora o assunto e busca uma aproximação dos campos de pesquisa, um ponto de equilíbrio entre a ciência da nutrição e "Fat Studies".

Alimentação intuitiva na Atenção Primária: prática do nutricionista e percepção do usuário

“…28 E apesar de essas informações sobre alimentação estarem cada vez mais disponíveis, elas são colocadas de maneira dicotômica, dividindo os alimentos entre "saudáveis" e "não saudáveis", "permitidos" e "proibidos", atribuindo um valor moral em relação aos alimentos e contribuindo para que as pessoas sintam culpa, e não prazer em comer. 29 Essa relação pode ser observada na fala do participante 9, ao relatar sua culpa ao comer uma rodela a mais de beterraba do que estava previsto.…”

“…32 Em redes sociais, profissionais da saúde falam de redução de gordura corporal por meio do autocontrole, desconsiderando os determinantes sociais da saúde envolvidos no acúmulo de tecido adiposo. 29,33 Essa propagação de informações baseadas nos conceitos biomédicos de saúde, com foco no emagrecimento, muitas vezes influencia o indivíduo a acreditar que se ele emagrecer ele terá saúde, e que o emagrecimento só depende da força de vontade para fazer atividade física e restrições alimentares. 29 Podemos perceber essas crenças nas falas dos participantes que relataram a busca da saúde como motivo de procura à nutricionista.…”

Percepção de nutricionistas sobre sua atuação profissional no contexto de supervalorização do corpo magro e escultural

“…Se, antes a lógica repressiva escondia o corpo, no momento posterior ele passou a ser evidenciado, desejado e, o corpo magro e malhado tornou-se a grande referência de imagem corporal perfeita 6 . O propósito de alcançar o corpo perfeito passou a ser associado fortemente à ideia de saúde, beleza e felicidade, e a alimentação passou a ser considerada o caminho através do qual se alcançaria o novo ideal de perfeição 6,7 .…”

“…A formação da imagem corporal de cada um sofre influência direta dos meios de comunicação: a corrida pelo corpo perfeito intensifica-se quanto mais corpos inalcançáveis a mídia expõe, podendo gerar atitudes e comportamentos alimentares disfuncionais e prejudiciais à saúde 7,8,9 . Portando um novo significado, a nutrição deixa de ser vista como uma estratégia voltada à promoção da saúde e prevenção de doenças, tornando-se uma prática dedicada a esculpir corpos perfeitos 6,7 .…”

Interfaces Entre a Gordofobia E a Formação Acadêmica Em Nutrição: Um Debate Necessário

“…6 Com o intuito de solucionar a problemática, assim como as outras profissões da Saúde, a ciência da Nutrição passou a dedicar-se ao estudo da obesidade, reproduzindo tradicionalmente o pensamento biomédico, partindo do pressuposto desta enquanto doença que deve ser tratada do ponto de vista biológico-nutricional e como fator de risco para outras enfermidades. 7 Nas últimas duas décadas, a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a considerar a existência de uma "epidemia da obesidade", o que influencia o aumento de políticas públicas voltadas ao emagrecimento.² A obesidade, então, é comumente e de maneira simplista definida como doença consequente de um balanço energético positivo, ou seja, maior consumo calórico e menor gasto energético. É tida como causa de incapacidade funcional, de redução da qualidade de vida, redução da expectativa de vida e aumento da mortalidade.…”