Por Onde Andam Os Rios De Salvador?

Abstract

A expansão urbana e a densificação desordenada nas cidades, associadas a um sistema de drenagem urbano ineficiente, tem provocado mudanças no ciclo hidrológico, acentuadas por fatores como impermeabilização do solo, descarte inadequado de resíduos sólidos e canalização do escoamento. Todos esses fatores contribuem para uma drástica alteração da paisagem urbana, a exemplo da canalização e do encapsulamento de rios que perderam sua identidade e sucumbiram a um urbanismo predatório. Com foco na modernização dos sistemas de drenagem e na redução de tais impactos, surge uma abordagem sustentável que busca incorporar aspectos da resiliência. Este artigo propõe discutir criticamente a relação da cidade de Salvador e seus rios, analisando a lógica subjacente à drenagem urbana e a logica que subjaz o processo de concepção do planejamento urbano.

Configurações fluviais e urbanas

“…As avenidas de vale foram construídas, em sua maioria, sobre os rios urbanos, e não no seu entorno, desconsiderando as bacias hidrográficas enquanto unidades de gestão e planejamento. Os cursos d'água passaram a ser utilizados como locais de depósito e escoamento de esgoto, acarretando processos de erosão, transporte e deposição de sedimentos, gerando impactos sobre a hidrologia (Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental et al, 2017; Barbosa et al, 2018;Moraes, 2019;Silva et al, 2019). O mercado imobiliário também se beneficiou desse modelo de ocupação: a população que já ocupava essas áreas ribeirinhas, como pescadores e agricultores, foi removida, e as áreas alagáveis, depois de aterradas, foram loteadas e comercializadas, desconsiderando as relações ambientais e priorizando a expansão urbana.…”

Estudo da qualidade das águas superficiais na foz do rio Lucaia, Salvador (BA), Brasil

“…Em Salvador, assim como em outros grandes centros urbanos, o encapsulamento de rios é utilizado como uma resposta para solucionar os problemas de esgotamento sanitário, poluições e inundações (Silva et al, 2019). O rio Lucaia, é um rio que retrata a realidade dos rios urbanos de Salvador.…”

Rios em assentamentos informais: conflitos, possibilidades e estratégias

“…As avenidas de vale foram construídas, em sua maioria, sobre os rios urbanos, e não no seu entorno, desconsiderando as bacias hidrográficas enquanto unidades de gestão e planejamento. Os cursos d'água passaram a ser utilizados como locais de depósito e escoamento de esgoto, acarretando processos de erosão, transporte e deposição de sedimentos, gerando impactos sobre a hidrologia (Silva et al, 2019;BARBOSA et al, 2018). O mercado imobiliário também se beneficiou desse modelo de ocupação: a população que já ocupava essas áreas ribeirinhas, como pescadores e agricultores, foi removida, e as áreas alagáveis, depois de aterradas, foram loteadas e comercializadas, desconsiderando as relações ambientais e priorizando a expansão urbana.…”

“…A lista a seguir pontua os principais problemas enfrentados pelos rios em assentamentos informais em Salvador, e foi elaborada a partir de dados de observação e dos estudos de Santos et al (2010); GAMBA (2011); Rossi, et al (2012); Seminário (2017); Barbosa (2018), Silva et al (2019):…”

“…O elevado aporte de esgoto sanitário bruto e resíduos sólidos transformam os rios em espaços urbanos desvalorizados, causadores de problemas de saúde pública (proliferação de patógenos, perda da balneabilidade das praias), de caráter estético e sensorial (mudança da coloração da água, mau cheiro, perda das potencialidades paisagísticas), ambientais (perda de biodiversidade, contaminação do solo e águas) e problemas relativos à infraestrutura urbana (drenagem insuficiente, dragagens constantes, insuficiência do sistema de tratamento de esgoto e coleta de resíduos sólidos). Diante desse cenário, a própria percepção da população sobre esses ambientes é alterada, na medida em que passam a ser encarados como canais de esgotos, e não mais como rios (BARBOSA et al, 2018;SILVA et al, 2019;…”