“…Adotamos no projeto -e também neste texto -a defesa de uma Museologia LGBT como base teórica e conceitual para o desenvolvimento de nossos debates, compreendendo esta teoria como um eixo essencial ao desenvolvimento metodológico desenvolvido no projeto e aqui relatado. Para tanto é conveniente apresentar o conceito a partir de seus autores: Museologia LGBT passou a ser entendida como uma categoria conceitual criada para ser aplicada no conjunto de iniciativas da América Latina, tal qual temos demonstrado em distintas ocasiões (BAPTISTA & BOITA, 2014;2017, 2018, de onde se pode depreender sete características básicas: 1 [...] , é uma Museologia produzida por quem utiliza o pronome "nós" e não apenas por quem é gay ou lésbica, por exemplo, gerando potentes conjugações inte-ressadas na defesa de um coletivo; 2 Opõe-se a tentativas de expropriação de seus patrimônios por pessoas que não pertencem a essas comunidades, em especial quando empreendidas por pesquisadores acadêmicos, políticos demagógicos, ONGs elitistas, igrejas e milícias, entre outras organizações exóticas às comunidades -o pertencimento direto, portanto, é característica fundamental dessa produção; 3 Estar vinculada às políticas públicas na América Latina, e por isso utiliza a sigla LGBT, pois é esta a forma consagrada de denominar a ampla população que não se encaixa na matriz heterossexual no campo das Políticas Públicas deste território (BOITA, 2018), sobretudo como se nota no Brasil [...]; 4 É uma Museologia popular e, con-forme realidade latinoamericana, é localizada em periferias urbanas ou simbólicas, bem como cons-ta com corpos não-brancos em sua gestão, ou seja, corpos negros, indígenas, afro-indí-genas, pardos etc-o que a torna uma prá-tica criativa, que valoriza a performativida-de enquanto expográfica e utiliza materiais econômicos ou reciclados, indispondo-se a orçamentos elevados pois sabe que existem questões emergenciais onde o dinheiro deve de fato ser gasto; 5 é uma Museologia em pleno diálogo com uma Museologia Femi-nista também emergente e interseccional em raça e classe 6 [...] a Museologia LGBT integra certamente a Museologia Social ou Sociomuseologia, não sem antes alertar que dentro desse grande escopo também reside a fobia à diversidade sexual comum aos museu; 7 Por valorizar performances, vocabulários, múltiplas sexualidades e identidades plurais em constante renovação, este modo de conceber Museologia pode ser nomeado como Museologia Pajubá, Museologia Babadeira, Museologia Pintosa, Museologia Fechativa, Museologia Afrontosa, Museologia Travesti, Museologia Trans, Museologia Sapatão, Museologia Lgbt Afro-Indígena, entre outras possibilidades criativas que certamente irão variar quanto mais se experimentar uma libertação sexual museológica. (Baptista & Boita, 2020, p. 5-6) Corroboramos com a tese dos autores na construção de uma Museologia que se contrapõe a uma outra já estabelecida e entendida como hegemônica, no entanto compreendemos esta Museologia -integrante e interseccional de outros movimentos -como base teórica de produção de conhecimento e de sentidos.…”