RESUMO Neste artigo, entendemos a maternidade como um dispositivo que molda condutas e dá sustentação à família nuclear, mas que está sujeito a mutações e reapropriações. Propomo-nos a pensar em que medida o filme Tudo sobre minha mãe , ao desnaturalizar performances de maternidade, bem como as de gênero e sexualidade, estimula a reflexividade sobre o tema e enseja possíveis ressignificações. Para isso, elecionamos dois momentos mais recentes da trajetória textual (BLOMMAERT, 2005) que o filme vem percorrendo desde 1999 e os submetemos à análise, que privilegia, em termos de construtos teórico-analíticos, entextualizações (SILVERSTEIN; URBAN, 1996; BAUMAN; BRIGGS, 1990) e processos escalares (CARR; LEMPERT, 2016) para analisar tal reflexividade. O que observamos é que grande parte das desestabilizações queer que a narrativa fílmica promove inspiram posicionamentos, em novas entextualizações, que, muitas vezes, ratificam-nas e logram expandir o conceito de maternidade para além das associações biológico-instintivas, que prevalecem no senso comum (SCAVONE, 2001; FIDALGO, 2003; PINHEIRO, 2014).