Mais de dois terços dos incunábulos conhecidos em todo o Mundo são redigidos em latim e, destes, cerca de metade tem carácter religioso. Sem levar em conta as numerosas edições de textos bíblicos, que são uma constante da actividade editorial quatrocentista, o período incunabular é particularmente rico em livros litúrgicos (leccionários, missais, sacramentais, martirológios, rituais, pontificais, cerimoniais, etc.), apesar de ser este o domínio bibliográfico onde se regista o maior número de edições desaparecidas.O uso do latim como língua internacional, por um lado, e o ascendente socio-cultural da Igreja Católica, por outro, explicam que assim seja. Mesmo quando, após a publicação das primeiras gramáticas em vernáculo, se começa a dar às línguas nacionais um adequado suporte normativo, ainda o latim continua a disfrutar, dentro e fora do âmbito religioso, de ampla audiência. Isso acontece não apenas em ramos do saber tradicionalmente ligados à prática da expressão latina -como o Direito, a Filosofia ou a Medicina -mas também no sector das «humanae litterae», onde a clareza, estabilidade e precisão do latim eram justamente apreciadas. Beneficiando do influxo humanista na cultura e na vida quotidiana, o latim será, durante o século xvi, o instrumento de comunicação mais adaptável ao intercâmbio ideológico entre países diferentes e à própria mobilidade das instituições em crise, cujo esforço de renovação passa, obrigatoriamente, pelo estudo e valorização do legado clássico.A difusão da imprensa veio atenuar a hegemonia do latim e favorecer o desenvolvimento das línguas nacionais (1). Mas os resultados concretos da lenta acção vivificadora dos impressores no seio das línguas vulgares surgem bastante mais tarde: em certos países da (1) Cf. LUCIEN FEBVRE e HENRI-JEAN MARTIN, L'apparition du livre, Paris,