O crescimento evangélico no Brasil tem suscitado debates em torno das relações conflituosas com as religiões afro-brasileiras. Em Salvador, uma capital majoritariamente negra, os evangélicos vêm crescentemente disputando legitimidade social numa cidade cuja presença pública das religiões de matriz africana visibiliza símbolos que aparecem como “marcadores” da identidade baiana. Para abordar os desafios contemporâneos dessa relação, apresentamos inicialmente as discussões em torno das categorias de intolerância e racismo religiosos, focando nas pesquisas que tratam desses conflitos no espaço público de Salvador: no reconhecimento de monumentos religiosos, nas festas de largo, nos “territórios religiosos” de vizinhança. Em seguida, abordamos o conflito recente entre afrorreligiosos e evangélicos em Salvador referente à urbanização do Parque das Dunas e Lagoa do Abaeté, em fevereiro de 2022, que confrontou os dois grupos nas ruas da cidade. Na conclusão, apontamos a intensificação dos conflitos que produzem novos estriamentos do espaço urbano: do lado dos evangélicos, a exigência da retirada dos símbolos do candomblé do espaço público, ao tempo em que reivindicam o reconhecimento dos seus símbolos na cidade; do lado dos afrorreligiosos, a novidade dos ebós coletivos, que ressignificam o espaço público com a potência antes circunscrita aos terreiros e espaços sagrados.