Nas últimas décadas, a sociedade tem experimentado grandes transformações políticas, econômicas e sociais que resultaram em mudanças no seu padrão de saúde. As condições biológicas do indivíduo, juntamente com o contexto cultural, combinam-se para determinar significados e impactos das experiências sociais para a saúde mental do indivíduo. Dessa forma, quando há um desequilíbrio dessas condições é possível que seja desencadeado, portanto, sofrimento mental. Esse sofrimento é considerado uma síndrome clínica composta por essas três dimensões que se manifestam em graus variáveis: depressiva, ansiosa e somatoformes(1). Estudiosos colocam que há uma intersecção entre essas dimensões e, portanto, deve-se considerar aspectos diferentes do mesmo sofrimento, ao invés de considerá-los como um diagnóstico ou categoria em separado. Essa perspectiva, evita que se sobreponham comorbidades ou que se sucedam diagnósticos no tempo que nada mais são do que intensidades diferentes da mesma combinação de sintomas(1-2). A necessidade de se conhecer e discutir as implicações do sofrimento mental leva em consideração também o fato de que essa problemática deverá figurar, em 2050, entre os agravos mais incapacitantes, sendo que atenção especial deve ser dada as mulheres(3). Na realidade brasileira, estudo transversal realizado com mulheres de um serviço de base comunitária identificou prevalência de 52,1%, o que reforça a necessidade de mecanismos que o identifiquem e que direcionem a devida atenção a essa população(4). Neste sentido, as(os) trabalhadores de saúde, em especial, os da atenção básica têm o desafio de atender a essa demanda, pois, é considerável o contingente de pessoas que buscam auxílio profissional neste contexto devido sofrimento mental. Pesquisa aponta que cerca de uma em cada quatro pessoas que procuram a atenção básica tem algum transtorno mental, segundo a Classificação Internacional das Doenças (CID-10). Ao incluir também aqueles que têm sofrimento mental a proporção chega a uma pessoa em sofrimento a cada duas pessoas que procuram esse tipo de serviço(5). A atenção básica é, pois, porta de entrada preferencial de todo o Sistema de Saúde (SUS), inclusive, no que diz respeito às necessidades de saúde mental dos usuários e a consulta de enfermagem, por sua vez, configura-se em importante ferramenta para as(os), enfermeiras(os), pois permite a valorização da subjetividade e realização de trocas interativas entre profissional-paciente. Para a realização dos cuidados de Enfermagem à pessoa em sofrimento mental, é importante a ampliação dos conhecimentos acerca dos vários aspectos do cuidado, sobretudo, a valorização de abordagem interpessoal, visto que a mesma compreende o indivíduo de forma individual/integral respeitando todas as suas particularidades(6). Portanto, é emergente a necessidade de discussão dessa problemática pela Enfermagem, pois a cada momento deve-se (re)construir novas formas de cuidado, que possibilitem que a pessoa em sofrimento seja reconhecida nas suas potencialidades e que os profissionais possam se perceber também como protagonistas destas mudanças e coadjuvantes do processo de produção de autonomia e subjetividades das pessoas em sofrimento mental.