Neste número do Jornal de Pediatria, Ceschini et al. 1 publicam um artigo intitulado "Prevalência de inatividade física e fatores associados em estudantes do ensino médio de escolas públicas estaduais". O tópico é muito importante porque a atividade física traz benefícios à saúde relevantes na juventude. A inatividade física é associada a um agrupamento de fatores de risco para doença cardiovascular (DCV) na juventude, isto é, os níveis de muitos fatores de risco para DCV tendem a aumentar simultaneamente 2 . Pode haver várias razões para essa combinação de fatores de risco em crianças sedentárias, mas, entre os principais candidatos, a diminuição da sensibilidade à insulina é essencial. Os efeitos biológicos relacionados a altos níveis de atividade física em crianças são uma menor pressão sanguínea, níveis séricos de lipídios e lipoproteínas mais favoráveis, maior sensibilidade à insulina e menor adiposidade 3 . Tem-se demonstrado que a inatividade física e o menor nível de aptidão física estão relacionados com fatores de risco para DCV em crianças, independentemente da obesidade 4 . Além disso, a atividade física tem sido consistentemente associada com uma melhor saúde psicológica, como por exemplo, níveis mais altos de autoestima e mais baixos de ansiedade e estresse. A atividade física na infância e na adolescência também é importante para atingir e manter uma adequada resistência óssea, e ela contribui para um desenvolvimento esquelético normal 3 .Os fatores de risco biológicos para DCV podem não ser um problema sério em crianças, porque poucas (ou nenhuma) delas sofrem de doença como resultado de um estilo de vida sedentário. No entanto, duas razões poderiam justificar o início de estratégias de prevenção na infância. Em primeiro lugar, muitos estudos têm mostrado que a aterosclerose começa cedo; em segundo lugar, alguns estudos indicam que a atividade física iniciada na infância se mantém até a vida adulta 5 . As evidências apoiando a segunda razão não são fortes, porque a maioria dos estudos longitudinais se baseia em atividade física autorrelatada -e, especialmente em crianças, é difícil quantificar a atividade física com base em autorrelato. Por outro lado, o agrupamento de fatores de risco para DCV deveria ser considerado um problema sério mesmo quando as crianças não apresentam sinais de doença. Em algumas coortes de crianças bastante saudáveis, o agrupamento de fatores de risco para DCV foi encontrado em 10-15% das crianças 2 . De um ponto de vista biológi-co, essas crianças apresentam um nível insuficiente de atividade física.No estudo de Cheschini et al. 1 , os autores classificaram mais de 60% dos adolescentes como fisicamente inativos de acordo com a recomendação internacional de pelo menos 1 hora de atividade física moderada por dia, dada pelo American College of Sports Medicine e confirmada pela revisão de Strong et al. 6 . Pate et al. 7 relatam "discrepâncias dramáticas" entre estimativas de atividades autorrelatadas e medidas objetivamente. Níveis autorrelatados de atividade vigorosa parecem...