IntroduçãoTumores cardíacos são de ocorrência rara, sendo difícil saber sua real incidência, já que grande parte dos casos é diagnosticada somente de forma incidental em estudos de autopsia. Sabe-se que ocorre uma preponderância de acometimento cardíaco por tumores secundários em relação aos originários do próprio órgão.1 A origem do acometimento metastático é mais frequentemente proveniente de neoplasia de pulmão, linfoma, câncer de mama e esôfago, comumente por invasão direta ou disseminação linfática.2,3 A localização mais comum para metástases no coração é no pericárdio (69%), seguido por epicárdio (34%), miocárdio (32%) e endocárdio (5%). O envolvimento pericárdico por metástases caracteristicamente determina poucos sintomas, podendo haver envolvimento extenso mesmo sem sintomas. Os sintomas guardam maior relação com a localização do tumor do que com seu tamanho. 4 Os tumores cardíacos provocam sintomas através de quatro mecanismos principais: embolização, obstrução, arritmias e sintomas constitucionais. A embolia, complicação que acomete até 25% dos casos, ocorre mais frequentemente associada a tumores ainda pequenos, especialmente quando localizados em átrio esquerdo e válvula aórtica.5 Já tumores mais volumosos tendem a trazer complicações por obstrução ao fluxo, determinando sintomas de insuficiência cardíaca e síncope. O sintoma mais comum de apresentação nesses casos é dispneia, seguido por dor torácica. Os sintomas constitucionais como febre, perda de peso e fadiga são atribuídos a substâncias produzidas pelo tumor, como a interleucina 6, e são relacionadas especialmente aos mixomas cardíacos. Os mixomas cardíacos são os tumores primários mais frequentes do coração, correspondendo a aproximadamente 50% dos tumores benignos. Ocorrem em uma frequência de aproximadamente 1 caso a cada 2 milhões de pessoas da população, com apresentação mais frequente em adultos entre 30 e 50 anos, predominando em mulheres.2 A maioria dos mixomas se localiza no átrio esquerdo, em 75% a 85% dos casos, seguida pelo átrio direito em 15% a 20% e ventrículos em 5% a 10%. A avaliação ecocardiográfica pode classificar os mixomas em dois grupos: um apresentando formato arredondado e sólido, com superfície fixa (52% dos casos) e outro com formato polipoide, com superfície irregular e móvel (48% dos casos), estando este último mais propenso a fenômenos embólicos.
6O ecocardiograma é a modalidade diagnóstica inicial ideal para avaliação de pacientes com suspeita de tumores cardíacos, já que é um exame simples, não invasivo, amplamente disponível e de baixo custo. Através dele é possível avaliar a localização, morfologia e mobilidade dos tumores além de possibilitar avaliar suas consequências hemodinâmicas.
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Relato do CasoPaciente do sexo feminino, com 37 anos de idade, apresentando quadro de dispneia a esforços com progressão indolente ao longo dos anos e início recente de edema de membros inferiores e dor em hipocôndrio direito. Não apresentava histórico de comorbidades cardiovasculares. Ao exame físico, mucosas hipocoradas, emag...