Desde a Antiguidade, sobretudo se considerarmos as práticas antiquárias examinadas nos estudos de Momigliano (1992), Schnapp (1998) e alhures, tem-se reconhecido que o estudo do passado (e mesmo do presente) pode beneficiar-se da utilização dos artefatos como fonte privilegiada de conhecimento. Transmitida à posteridade de maneira fragmentada, a documentação da tradição textual, a despeito de sua inegável importância humanística, pode se nos oferecer, contudo, uma visão parcial sobre as sociedades antigas. A este propósito, Géza Alföldy (1986: 18) foi enfático quanto à imprescindibilidade, em nossa época, da Arqueologia para o estudo da História Antiga: daß in unserer Zeit alte Geschichte ohne Archäologie nicht mehr denkbar ist (Em nosso tempo, a História Antiga não é mais concebível sem a Arqueologia). Esse "nosso tempo" está já três décadas e meia atrás! Tal constatação, por sua vez, desabona a pretensão de subordinar a Arqueologia à condição de disciplina auxiliar ou complementar à História. Ao contrário, como os textos que compõem este dossiê tornam patente, o estudo da cultura material é regido por metodologias e especificidades próprias. Ainda que a utilização de recursos tecnológicos, na Arqueologia, sinalize uma paulatina especialização e aprofundamento de suas especificidades, também é inegável que a constituição de bases de dados, e tantos outros meios informatizados (Pérez González, 2018), tem colaborado sobremaneira para a democratização e o acesso ao documento