A baixa adesão à medicação entre os pacientes bipolares é conhecida e é um fator importante no insucesso do tratamento de alguns casos. A percepção do paciente a respeito da doença e da importância da medicação influencia na sua adesão 1 . Sendo assim, quanto mais informados sobre a doença, como ela se manifesta, os tratamentos disponíveis e sua importância para se obter estabilização do quadro clínico, mais aumenta a adesão ao tratamento, levando a melhor desfecho 2,3 .Fatores psicossociais como personalidade, estilo cognitivo, presença de emoção expressa na família, eventos vitais estressantes e suporte emocional também parecem contribuir em 25% a 30% nas alterações no curso da doença, influenciando na recuperação sintomática e na qualidade de vida 4,5 . A baixa adesão ao tratamento medicamentoso ainda é o fator responsável pelo maior número de recaídas. A literatura evidencia que os fatores mais relacionados à baixa recuperação sintomática e funcional são não adesão 6 , presença de sintomas entre episódios 7 , uso de antipsicóticos, baixo funcionamento pré-mórbido, comorbidade com transtorno de personalidade 8 e prejuízo cognitivo relacionado com o transtorno do humor 9 .Nos últimos anos, muitos pesquisadores têm se dedicado a avaliar os motivos da baixa adesão ao tratamento, não apenas no que diz respeito ao transtorno bipolar, mas em relação a doenças crônicas em geral. Um estudo feito com pacientes japoneses com doenças crônicas identificou, entre outros tópicos, que a baixa adesão à medicação está associada a crenças pessoais a respeito da doença, não valorização da relação de confiança com o médico, maior valorização dos possíveis efeitos colaterais da medicação e pouca compreensão de sua necessidade 10 .Bowskill et al. 5 , em 2007, avaliaram 223 pacientes membros do Manic Depression Fellowship (MDF), e aqueles que reportaram baixa adesão à medicação tiveram alta insatisfação com a informação fornecida; já os que reportaram alta adesão tiveram baixa insatisfação com a informação. Isso parece demonstrar a associação entre a informação correta e a boa adesão.Sendo assim, é importante que a psicoeducação associada ao tratamento do transtorno bipolar (TB) inclua não apenas a informação sobre a doença e seu tratamento, mas leve em consideração as crenças inadequadas dos pacientes que podem atrapalhar na assimilação da informação prestada e consequentemente atrapalhar na adesão ao tratamento e na obtenção de bons resultados. Por isso, o Programa de Transtornos Afetivos do IPq-HCFMUSP realizou um estudo-piloto acerca das principais crenças errôneas dos pacientes e familiares presentes em seus Encontros Psicoeducacionais abertos. Para isso, foi elaborado um questionário que consistia de 32 afirmações (verdadeiras e falsas) a respeito da doença, de seu tratamento, da importância da família e da prevenção de recaídas. Os sujeitos participantes do estudo foram instruídos a atribuir a cada afirmação o critério de verdadeira (V) ou falsa (F). Sessenta e dois sujeitos participaram do estudo. Os resultados demonstraram...