A doação de ovócitos como técnica de Reprodução Medicamente Assistida (R.M.A.), teve o seu início em 1983 e a sua utilização rapidamente se generalizou a todo o mundo, dado permitir ultrapassar com sucesso, muitas das situações de infertilidade de factor feminino.Inicialmente o processo destinava-se a mulheres com falência ovárica antes dos 40 anos, situação que ocorre em 1 a 5% das mulheres. Atendendo às elevadas taxas de sucesso, esta indicação foi alargada a outros grupos: mulheres com ausência congénita de ovários (1:10,000); mulheres sujeitas a ablação dos ovários; mulheres com risco de transmissão de doenças genéticas, e nos últimos anos, em mulheres com idade reprodutiva avançada, com uma reserva ovárica reduzida ou já na menopausa (ASRM, 2002).O número de mulheres dispostas a doar ovó-citos é sempre insuficiente face ao número de casais a necessitar deles. Para lá de outros factores, como as atitudes pessoais ou o desconhecimento desta necessidade social, uma das principais razões é que, embora as técnicas para a recolha dos ovócitos tenham sofrido evolução, este método ainda implica um assinalável desconforto físico para a dadora.A doação de ovócitos é providenciada de diferentes formas. Um dos primeiros processos referenciados é o egg-sharing, no qual mulheres em tratamentos de infertilidade partilham os seus ovócitos com outras na mesma situação, a troco de um menor custo nos seus próprios tratamentos. Outra fonte é as dadoras recrutadas pelos casais dentro do seu círculo de família ou amigos. Neste processo, vulgarmente denominado "anonimato personalizado" (Raoul-Duval, Letur-Konirsch, & Frydman, 1992), ocorre uma troca de dadoras, ou seja, o casal referencia alguém cujos ovócitos são doados anonimamente a outro casal, recebendo em troca ovócitos de uma dadora que desconhece (Frydman et al., 1990).Uma situação menos comum é a doação directa de ovócitos de uma mulher conhecida, naquilo que é comummente referido como doação conhecida. Este processo é usualmente muito valorizado pelos casais, mas levanta contudo algumas objecções, invocando-se possíveis consequências para o futuro relacionamento familiar nesta forma de doação.Inicialmente o procedimento de recolha de ovó-citos era realizado por laparoscopia 1 , e por isso, a
269Análise Psicológica (2005), 3 (XXIII): 269-276