RESUMOIntrodução: A qualidade de vida é uma medida importante de avaliação de resultados em saúde. Embora a otite média seja uma das doenças mais comuns na infância, o seu impacto na qualidade de vida das crianças portuguesas não é conhecido. O objetivo deste estudo é determinar a qualidade de vida das crianças portuguesas com otite média crónica com efusão e/ou otite média aguda recorrente e o impacto a curto-prazo da colocação de tubos de ventilação transtimpânicos, utilizando a versão portuguesa do questionário OM-6, um instrumento válido, confiável e sensível para avaliar a qualidade de vida relacionada com saúde em crianças com otite média. Material e Métodos: Este estudo foi realizado num hospital de nível terciário, para onde as crianças são referenciadas a partir dos cuidados de saúde primários e da consulta de pediatria hospitalar. O questionário OM-6 foi administrado em crianças com otite média crónica com efusão e/ou otite média aguda recorrente. O instrumento foi readministrado aos dois meses de pós-operatório a um grupo de crianças submetidas a colocação de tubos de ventilação transtimpânicos, para avaliar a alteração da qualidade de vida com o procedimento cirúrgico. Resultados: O estudo envolveu uma amostra de 169 crianças, com idades entre os 6 meses e os 12 anos (média: 4,20 ± 2,05 anos). A pontuação média no questionário foi de 3,3 ± 1,47, num máximo de 7 (pior qualidade de vida). Os domínios 'preocupações do cuidador', 'perda auditiva' e 'sofrimento físico' apresentaram as pontuações mais elevadas. O domínio 'perda auditiva' correlacionouse com o domínio 'alterações da fala' (r s = 0,41; p < 0,001) e o domínio 'sofrimento físico' correlacionou-se com o domínio 'limitação da atividade' (r s = 0,47; p < 0,001). Observou-se correlação entre a pontuação no domínio 'perda auditiva' e a presença de hipoacusia de condução (χ 2 (6) = 24,662; p = 0,022). Crianças com otite média crónica com efusão apresentaram pontuação mais baixa no domínio 'sofrimento físico', ao passo que crianças com otite média aguda recorrente apresentaram pontuação mais baixa no domínio 'perda auditiva' e pontuação mais alta no domínio 'sofrimento emocional'. Registou-se uma melhoria da qualidade vida em todas as dimensões estudadas pelo questionário após o procedimento cirúrgico. A melhoria foi considerada grande em 55%, moderada em 15% e pequena em 10% dos casos. A presença de otorreia no pós-operatório não mostrou comprometer a melhoria da qualidade de vida obtida com o procedimento cirúrgico. Conclusão: A otite média tem um impacto negativo na qualidade de vida das crianças portuguesas. A colocação de tubos de ventilação transtimpânicos melhora a qualidade de vida na maioria das crianças. A aplicação de questionários validados doença-específicos permite uma melhor compreensão do impacto que a otite média apresenta na qualidade de vida das crianças portuguesas e do sucesso do tratamento.