Quando a oralidade chega à escrita: discutindo os desvios ortográficos em textos do Ensino Fundamental II de Uberaba/MG

Abstract

Este artigo tem como objetivo investigar os desvios ortográficos que são, em sua maioria, reflexos de processos linguísticos variáveis que são transpostos para o texto escrito dos alunos de 6º ano do Ensino Fundamental II de duas escolas públicas de Uberaba/MG. Para isso, elaboramos e aplicamos uma proposta de redação destinada ao público-alvo, mais especificamente os alunos foram convidados a produzirem uma narração. Para identificação e análise dos desvios de escrita, utilizamos duas categorias propostas por Bortoni-Ricardo (2005): Tipo 1 - desvios decorrentes da própria natureza arbitrária do sistema de convenções da escrita e Tipo 2 - desvios decorrentes da interferência da oralidade na escrita. Dentre das ocorrências encontradas no grupo (II), verificamos quais os fenômenos fonético-fonológicos são mais recorrentes. Por meio deste trabalho, buscamos ressaltar a importância das teorias linguísticas e, principalmente, dos pressupostos sociolinguísticos como respaldo ao professor no ensino de língua materna. Evidenciamos, também, que mesmo em séries avançadas, os alunos necessitam de auxílio em relação ao processo de aquisição da escrita e em como compreender satisfatoriamente o que ele escreve. A partir do reconhecimento da natureza desses desvios ortográficos, o professor pode propor atividades mais produtivas.

diagnose de traços graduais em redações escolares e a importância da pedagogia da variação linguística

“…B. A diagnose de traços graduais em redações escolares e a importância da pedagogia da variação linguística Tendo isso em vista, o profissional da linguagem, que se alinha a uma visão de língua heterogênea, sistemática e ordenada (Labov, 1972), compreende que a representação dos desvios ortográficos são formas possíveis dentro do sistema linguístico (Sene, Barbosa, 2019), mesmo que isso represente um desacordo com as normas ortográficas. Afinal, existem, de acordo com Bortoni-Ricardo (2005) e adaptado por Sene (2018), dois tipos de desvios ortográficos 5 , aqueles que são motivados da própria natureza arbitrária do sistema de convenção da escrita (Tipo I) e aqueles que são decorrentes da transposição dos hábitos da fala para a escrita (Tipo II).…”

“…Muitas pesquisas já atestam que "quando a oralidade chega à escrita" (Sene, Barbosa, 2019), muitos dos desvios ortográficos de natureza fonológica que são identificados refletem processos linguísticos variáveis (Baronas, 2009;Sene, 2018;Moreira, 2018;Sene, Barbosa, 2019;Sene, Sandes, 2020). Sendo assim, é de fundamental importância que esses fenômenos variáveis sejam identificados e incorporados adequadamente nas práticas pedagógicas dos docentes, dado que são pistas sociolinguísticas importantes acerca do conhecimento do aluno sobre a própria escrita, além de dar pistas a respeito de sua variedade linguística.…”

“…É importante destacar que os processos linguísticos variáveis, os quais aparecem nas produções escritas, são capazes de nos revelar o conhecimento que o aluno tem sobre a língua, especialmente quando estão diante de alguma dificuldade no que se refere à ortografia -por isso a importância de identificá-los adequadamente. Isso porque os aprendizes buscam na oralidade (e em suas variedades) modos de representar as dificuldades que encontram na modalidade escrita (Sene, Barbosa, 2019). Grande parte SENA, M. G.; BARBOSA, J.…”

Análise de alguns traços fonológicos graduais na escrita sob a perspectiva da sociolinguística educacional

“…Grande parte dos alunos sofre com o processo de exclusão por parte da escola, mesmo no início da alfabetização, por não apresentarem resultados suficientes no domínio de habilidades que envolvem a leitura e a escrita 3 (GOMES, 2008;SENE, 2018;SENE;BARBOSA, 2019). São inúmeros os motivos pelos quais os alunos apresentam dificuldades, especialmente no domínio pouco proficiente da modalidade escrita da língua, alguns dos quais serão discutidos neste artigo: (a) a emblemática noção de norma padrão, (b) o desconhecimento da relação entre a fala e a escrita e (c) o ensino descontextualizado e desatualizado das variedades da língua.…”

Variação, Preconceito Linguístico E Ensino: Velhos Problemas, Novas Histórias

“…É o primeiro passo para dar legitimidade à variedade dialetal que o aluno leva para a sala de aula. Nesse sentido, devemos considerar que, no processo de escolarização, é em relação à modalidade oral da língua e à sua própria variedade que o aluno buscará assimilar o que a escola define como "o que é certo" ou "o que é errado" (BORTONI-RICARDO, 2005;SENE, 2018SENE, , 2019.…”