O crescimento do consumo de drogas no Brasil tem sido acompanhado por uma proliferação de serviços voltados à reabilitação de pessoas dependentes. Entre esses serviços, as comunidades terapêuticas, anteriormente relegadas a um papel secundário, passaram a ocupar uma posição central nas políticas públicas dirigidas aos usuários. Este estudo propõe uma análise crítica e descritiva dessas instituições, examinando tanto suas implicações para a saúde coletiva quanto os aspectos sociais envolvidos, com ênfase em seu processo de expansão, na institucionalização dos indivíduos atendidos e nos impactos que geram para a sociedade. A análise também problematiza a inserção dessas instituições no contexto da contrarreforma psiquiátrica brasileira e na “mercantilização da loucura”. A investigação utilizou como base o referencial teórico-científico, centralmente, o conceito de instituições totais de Goffman (2015), biopoder de Foucault (2014; 2017) e outros teóricos como Basaglia (2010), bem como dados normativos sobre substâncias psicoativas. Metodologicamente, fizemos uso da abordagem qualitativa (Minayo, 2016), descritivo (Gil, 1999) e compreensiva (Weber, 2009). Ao se afastarem de princípios da reforma psiquiátrica, que defendem práticas baseadas na reintegração comunitária e na dignidade dos usuários, muitas comunidades terapêuticas têm operado sob uma lógica privatista, com fins lucrativos, que reduz o cuidado ao tratamento padronizado e institucionalizador. Essa abordagem, frequentemente embasada em concepções moralistas e religiosas, reforça a exclusão social e a estigmatização dos usuários que vivem uma situação que nominamos de “os novos manicômios” no Brasil.