Na transição entre as décadas de 1970 e 1980, época marcada pelo ressurgimento de movimentos coletivos no Brasil, as populações de várias cidades sulinas situadas às margens do complexo lagunar Guaíba-Lagoa dos Patos encontraram caminhos para manifestar e fazer valer a sua preocupação a respeito do potencial poluidor de um grande complexo industrial, em ações verificadas desde os seus primeiros anúncios públicos. Pesquisa interdisciplinar mais abrangente torna possível este artigo, o qual recupera a primeira fase da história ambiental de ação de desenvolvimento efetivada no Rio Grande do Sul, a partir de entrevistas, consulta de arquivos públicos e privados e trabalho de campo: o III Polo Petroquímico. No âmbito do II Plano Nacional de Desenvolvimento, vigente durante a ditadura civil-militar, delineiam-se as grandes linhas do entrechoque público que o empreendimento causou, buscando compreender como aconteceu o debate e embate de ideias na condução desse projeto, antecessor de conjunto de plantas químicas operando ininterruptamente desde 1982 nos municípios de Triunfo e Montenegro. Defende-se que, em tempos e espaços ainda rarefeitos de normatizações ambientais, as ações e discursos de ambientalistas, políticos, técnicos e população em geral conseguiram proteger com mais rigor as águas necessárias, dentre outros usos, ao abastecimento da população de Porto Alegre. Mostra-se como dessas lutas resultam marcos pragmáticos nas medidas de proteção ambiental nacional: o pioneiro estudo de impacto ambiental e o enfim resultante modo de tratamento dos efluentes líquidos do complexo.