“…Ao desconsiderar os contextos de desigualdades sociorraciais da sociedade brasileira, tais como as mencionadas acima, o Estado não se sente coibido em reiterar sua posição de desprezo às vidas indígenas e negras, tal como ocorreu nos vetos presidenciais no Projeto de Lei nº 1142/2020 5 (Neide, 2020) que obrigava o Estado a promover o acesso universal à água potável, de distribuir cesta básica e material de higiene, limpeza e desinfecção para aldeias e comunidades indígenas, além de garantir a oferta emergencial de leitos hospitalares e de unidade de terapia intensiva (UTI) e a aquisição ou disponibilização de ventiladores e de máquinas de oxigenação sanguínea, entre outras proposições interditas. Evidencia-se, então, um consistente quadro político-epidemiológico que compõe o controle racializados dos corpos (Jesus, 2020) e a fomentação de itinerários de mortes devido à desproteção do Estado traçados no passado colonial que ainda segue a pavimentar o presente dito democrático. A violência racial-colonial deixou como legado uma sucessão de sofrimentos que não causa como resposta "nem tomada de responsabilidade, nem solicitude, nem simpatia e nem sequer a piedade" (Mbembe, 2017, p. 13) com os corpos que são rotineiramente deixados para morrer.…”