"¡realmente Fantástico!": Notas Sobre Distopía Y Ciencia-Ficción en El Río De La Plata

O gênero fantástico e a ficção como ponte em La vista desde el puente, de Ramiro Sanchiz

“…A partir da década de 1940, Jorge Luis Borges e Bioy Casares realizaram um trabalho teórico em que se dedicaram a construir uma nova concepção de literatura fantástica em língua espanhola. Essa nova ideia do que é o fantástico buscava retirar o gênero da marginalidade por meio da progressiva eliminação do sobrenatural, característica que consideravam inferior às demais, àquelas naturais ou que indicavam alucinação (PRIETO, 2009).…”

“…Assim, de acordo com Prieto (2009), a frase "Fantástica, pero no sobrenatural", presente tanto no prólogo de Antología de la literatura fantástica quanto no "Prólogo" de La invención de Morel, ambos escritos originalmente em 1940, ainda que pareça incongruente, principalmente para a época em que foi divulgada, resume o princípio desse projeto. Ou seja, com a ideia de violar o sentido comum de literatura fantástica existente naquela época, Borges e Bioy tinham como objetivo reconstruir a noção desse gênero em língua espanhola e colocálo em um lugar privilegiado, onde se encaixavam os romances realistas, como afirmado por Prieto (2009) no fragmento abaixo:…”

“…(PRIETO, 2009, p.61) Foi através desse "mal entendido" de um processo tradutório e da não tradição do gênero fantástico em língua espanhola que se tornou possível a renovação de algumas fórmulas estrangeiras esgotadas, surgindo, então, a definição de literatura fantástica em espanhol, que de acordo com Bioy Casares é: "(...) una suerte de cajón de sastre en que cabrían todo tipo de formas de imaginación literaria no realista, tanto modernas como premodernas (...)" (BIOY CASARES apud PRIETO, 2009, p 60). Ainda segundo Prieto (2009), esta primeira definição em castelhano seria um caso análogo ao de Edgar Allan Poe, que em seu livro Tales of the Grotesque and the Arabesque (1840), reflete sobre o termo fantástico, se referindo a ele por meio de palavras como grotesco e arabesco devido à conotação pejorativa que a expressão fantastic, em inglês, possuía nos Estados Unidos daquela época.…”

“…Quando propuseram retirar o sobrenatural da literatura fantástica, Borges e Bioy criaram, consequentemente, um sentido restrito ao gênero que descarta o irracional, mas que valoriza e funda uma literatura fantástica que transita entre o real e aquilo que eles entendem por fantástico. Jorge Luis Borges foi um autor que não manifestou interesse por obras inverossímeis, mas sim por uma literatura lógica, por uma verossimilhança que ocorre principalmente no imaginário dos personagens e os influencia em suas ações e pensamentos; com histórias mais subjetivas, Borges trabalha com a linha tênue existente entre a realidade e a fantasia, o que ele mesmo chamou de causalidade "mágica" (PRIETO, 2009). O romance La vista desde el puente, foco da pesquisa que originou este trabalho, é uma obra que se insere dentro de uma nebulosa conceitual por estar entre a ficção científica, o romance policial e a literatura fantástica que dialoga com a definição proposta por Borges e Bioy e que lhe interessa a seu autor, Ramiro Sanchiz.…”

“…Ademais, parte-se da análise de alguns textos que abordam o atual panorama literário uruguaio por meio da perspectiva da geração pós-ditadura; ditos textos comentam o espaço dado ao fantástico e à ficção científica dentro da literatura uruguaia e evidenciam a luta de alguns autores nas últimas décadas pela preservação destes gêneros em meio a uma sociedade mais acostumada a obras realistas (SANCHIZ, 2008;SANCHIZ, 2009;SANCHIZ, 2010;SANCHIZ, 2011a;SANCHIZ 2011b;SANCHIZ 2012). Além desses diálogos, é fundamental para nós um artigo de Julio Prieto sobre a formação do gênero fantástico na América Latina (PRIETO, 2009), assim como um artigo que relata a construção idílica da figura política de Artigas, personagem chave dentro da trama do romance analisado. (DELGADO, 2014).…”