Carta referente ao trabalho "Apendicite aguda: epidemiologia, sintomas, exames complementares e riscos para complicações" premiado no 34o COMU -Congresso Médico Universitário da FMUSP, SP, 2015. A Apendicite aguda (AA) é a emergência cirúrgica abdominal mais frequente em todo o mundo, atingindo uma em cada 10 pessoas 1 . A fisiopatologia da AA é essencialmente inflamatória: uma obstrução da luz do apêndice leva à inflamação, que consiste em aumento da permeabilidade vascular e migração de células do sangue para o tecido. Os neutrófilos são as primeiras células a se acumularem na corrente sanguínea, primeiramente a partir dos neutrófilos periféricos e, em seguida, a partir da medula óssea, de acordo com a intensidade do processo 2 . Ao nível macroscópico, ocorre acúmulo de muco, distensão e aumento da pressão intraluminal. Com a progressão da doença, ocorre proliferação bacteriana e necrose da parede do apêndice, levando a complicações como gangrena, perfuração, abscesso local e peritonite difusa.O diagnóstico da AA é baseado na anamnese e exame físico, sendo complementado por exames laboratoriais e de imagem. A sintomatologia usual inclui dor abdominal que migra para fossa ilíaca direita, náuseas e vômitos, anorexia e febre. Somente com os dados clínicos a acurácia diagnóstica pode chegar a 75-90% 3,4 , a depender da experiência do médico. Tais sintomas, no entanto, dependem de variações anatômicas do apêndice, idade do paciente, presença de complicações e comorbidades. Apêndice retrocecal, por exemplo, pode levar à dores mal localizadas, sintomas urinários e gastro-intestinais 5 . Além disso, o achado clássico de dor migratória, que tem valor preditivo positivo de 91%, está ausente em parte significativa do quadro clínico 6,7 . A complementação por exames de imagem tem melhorado a precisão do diagnóstico e reduzido o número de cirurgias desnecessárias. O uso dessas tecnologias, todavia, não está livre de desvantagens: a ultrassonografia de abdome depende da experiência e qualificação do profissional responsável e a tomografia computadorizada requer alto custo, não está disponível em centros de saúde menores e expõe o paciente a altas doses de radiação.Apendicectomia de emergência no momento do diagnóstico é o padrão ouro de tratamento desde o século passado. Fitz, em 1886, já verificou a importância do diagnóstico e intervenção precoce da doença 8 . Estudos comprovam que qualquer atraso na operação aumenta a morbidade pós-operatória, aumenta o tempo de