A maioria das pesquisas e trabalhos realizados sobre famílias homoparentais são baseados naquilo que pessoas adultas relatam. Sejam profissionais da Medicina e da Psicologia, pensadores da Sociologia, da Antropologia e do Direito, sejam os próprios pais e mães. Filhas e filhos raramente fazem parte das produções sobre o assunto. O presente texto, no entanto, foi pensado e produzido a partir das narrativas de onze filhas e dois filhos de mães lésbicas naquilo que elas e eles enxergam de ordinário e extraordinário em suas famílias. A partir da cartografia realizada, serão discutidos alguns aspectos do que vem a ser “famílias como as outras”, no contexto das homoparentalidades em sociedades heteronormativas, brasileira e francesa. Os relatos obtidos nas entrevistas apontam um cotidiano familiar feito de encontros, desencontros, desafios e trocas afetivas, ou seja, como ocorre nas múltiplas configurações familiares. Contudo, as semelhanças entre as famílias começam a borrar a partir das interações sociais dessas filhas e filhos, à medida que a vida privada se mistura com a pública. Assim, percebem que, aos olhos sociais, há diferenças nas semelhanças, há desigualdades entre suas famílias e a de colegas. No banal do dia-a-dia em família emerge o extraordinário da homoparentalidade. Nas entrevistas foram observadas repercussões distintas relacionadas aos caminhos percorridos, na busca por aquisição de direitos LGBT, judiciário no Brasil e legislativo na França. Assim, entre o ordinário e o extraordinário, essas/es filhas/os confrontam adversidades e as transformam em potência de reinvenção.