resumoOs valores culturais podem ter um impacto construtivo nas práticas científicas e levar a variações culturais legítimas nas abordagens sobre as mesmas. Segue-se que o conhecimento tradicional ou indígena não precisa opor-se ao conhecimento científico, e somente a investigação caso-a-caso pode estabelecer se as credenciais cognitivas de itens particulares do conhecimento tradicional são adequadas ou deficientes. Com base em uma análise de como as estratégias metodológicas podem tanto competir quanto complementar umas às outras, eu argumento que o que há de defensável na noção de incomensurabilidade de Thomas Kuhn e a possibilidade da solidez do status científico do conhecimento tradicional compartilham da mesma fonte.Palavras-chave • Pluralismo metodológico. Incomensurabilidade. Kuhn. Conhecimento tradicional. Imparcialidade. Neutralidade. Estratégias metodológicas.
O pluralismo metodológicoA ciência deveria ser pensada como uma investigação empírica sistemática, sensível ao ideal de imparcialidade, conduzida mediante o uso de quaisquer estratégias metodológicas que sejam apropriadas à obtenção do entendimento dos objetos investigados (cf. Lacey, 2008aLacey, , 2010.Assim concebida, a ciência é compatível com o pluralismo metodológico, com a visão de que (i) a pesquisa fecunda -pesquisa que leva a resultados de acordo com a imparcialidade, por conseguinte, a construção e a consolidação de teorias que manifestam os valores cognitivos com alto grau de respeito aos domínios específicos do fenômeno -pode ser conduzida mediante o emprego de diferentes tipos de estratégia, e de que (ii) a investigação de diferentes tipos de objetos e a adequada capacidade de responder à imparcialidade podem, realmente, requerer a adoção de tipos de estraté-gias fundamentalmente diferentes. Entretanto, ao longo da tradição científica moderscientiae zudia, São Paulo, v. 10, n. 3, p. 425-53, 2012 425 artigos