A partir da teoria familiar sistêmica, o objetivo deste estudo foi compreender como ocorreu a transmissão de padrões e perspectivas sobre a família, o casamento e o feminino em três gerações de mulheres, incluindo o gênero como um marcador interseccional relevante. O estudo de caso foi composto por duas famílias, ambas representadas pelas gerações de avós, mães e filhas. Participaram seis mulheres, com idades variando de 28 a 90 anos. A média de idade da primeira geração foi 82 anos, da segunda foi 57,5 anos, enquanto a terceira foi de 32 anos. O tempo de casamento variou de cinco a 64 anos, sendo que a média de duração da primeira geração foi 60,5 anos, seguida de 33,5 anos para a segunda e 11,5 para a terceira. Todas as participantes foram entrevistadas individualmente. A análise temático-reflexiva evidenciou a transmissão de valores sobre família e casamento, havendo a emergência de relações mais flexíveis de gênero apenas na terceira geração, o que pode ser observado na dimensão da parentalidade e da carreira. No entanto, destacaram-se questões transgeracionais e de gênero para manter o legado familiar e a indissolubilidade do casamento, o que não pode ser compreendido apartado de marcadores sociais e culturais.