Roberto Donato da Silva Junior (FCA -Unicamp) * A Ata de defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no processo de vida acadêmica do aluno.
RESUMOA adicção por drogas é, sem dúvida, um fenômeno complexo e multifacetado, como o comprovam os debates atuais sobre políticas públicas de saúde, segurança e assistência social voltados para o problema. Essa questão não pode tampouco ser compreendida senão dentro da cultura contemporânea, considerando os imperativos de consumo e as diferentes maneiras de o sujeito se relacionar com as drogas em determinados contextos. O próprio conceito de adiccção é guiado por diferentes paradigmas, seja pelo modelo da adicção como doença cerebral (BDMA) comumente adotado pela medicina, sejam pelas definições filosóficas e psicológicas que colocam a adicção no âmbito da fraqueza da vontade ou dos comportamentos habituais. Some-se a isso diferentes modelos de tratamento para a demanda de adictos como, por exemplo, o CAPSad, a Política de Redução de Danos e as Comunidades Terapêuticas. Nosso trabalho, entretanto, pretende se localizar fora do âmbito das políticas públicas de saúde ofertadas pelo Estado, ou, mais diretamente, pretende discorrer sobre os grupos anônimos de ajuda mútua, mais conhecidos como Narcóticos Anônimos (NA), considerando toda a complexidade e variedade do fenômeno da adicção por drogas. O NA caracteriza-se como uma irmandade sem fins lucrativos direcionada a pessoas para quem as drogas se tornaram um problema maior. Seus membros se autodenominam "adictos em recuperação" e se reúnem regularmente para partilhar suas experiências e ajudarem uns aos outros a sustentar a abstinência de drogas. Com o objetivo de conhecer como os sujeitos que frequentam Narcóticos Anônimos enfrentam a sua adicção por drogas, a presente pesquisa apropriou-se do método clínicoqualitativo proposto por Egberto Turato, tendo como instrumentos um roteiro de entrevista semiestruturada e um gravador de voz, bem como registros em diários de campo durante a participação nas reuniões dos grupos de NA. Recorrendo às contribuições da psicanálise no estudo dos grupos e das instituições, buscamos valorizar o saber que o sujeito tem acerca da sua própria vida e a cultura participativa. Após conhecer e analisar a dinâmica institucional do NA, resgatamos a importância da função fraterna, relegada a segundo plano pela psicanálise, reconhecendo a necessidade da participação de um semelhante para a (re)constituição da subjetividade.