RESUMOAs implicações das fissuras labiopalatinas são estéticas e funcionais. Uma adaptação satisfatória depende mais da família e de suas atitudes do que da própria presença da malformação. O processo ativo de resistência, reestruturação e crescimento em resposta à crise e ao desafio é denominado resiliência. Para adaptar-se a família necessita ser instrumentalizada por meio do empowerment: desenvolver habilidades necessárias para enfrentar e lidar com os eventos de vida, obter domínio sobre as suas questões, ser mais forte e capaz de administrar as demandas do cotidiano. Buscamos conhecer os mecanismos de empowerment que famílias de criança com fissura labiopalatina têm desenvolvido ou potencializado para ser resilientes frente à presença dessa situação adversa. Trata-se de uma pesquisa clínico-qualitativa em que foi utilizada a Análise de Conteúdo para o tratamento dos dados. Da análise emergiram duas categorias: "Vivendo um dia de cada vez: vencendo etapas", "Apoiando e sendo apoiado", sendo esta última composta de duas subcategorias "Pelos pares" e "Pela equipe multiprofissional". A falta de conhecimento priva o paciente e sua família da gestão da doença, impede-os de assumirem a responsabilidade, gera o sentimento de que sua vida está fora de controle, o que impacta negativamente na qualidade da vida da família.
INTRODUÇÃODiante do nascimento de uma criança com malformação, a família vivencia um processo de luto pela perda do seu bebê idealizado. Nesse contexto, emoções negativas são descritas como resposta dos pais a esse acontecimento, sendo as mais características: ansiedade, confusão mental, depressão, choque, raiva, descrença, ressentimento e frustração (1) .As implicações das fissuras labiopalatinas são estéticas e funcionais. As cirurgias de reabilitação iniciam-se aos três meses de idade com a reparação da fissura labial e aos doze meses com a reparação da fissura palatina. Outras cirurgias, que beneficiam o âmbito funcional e estético, são necessárias no transcorrer do desenvolvimento infantil e têm um impacto positivo no aspecto psicológico da criança e dos familiares. Ao trilhar o longo e sofrido processo de reabilitação, a família sente que não tem sido assistida em todas as suas necessidades pela equipe de saúde (2) .As atitudes dos pais em relação à situação são cruciais para o ajustamento de crianças com fissura. Uma adaptação satisfatória depende mais da família e de suas atitudes do que da própria presença da malformação. O processo ativo de resistência, reestruturação e crescimento em resposta à crise e ao desafio é denominado de resiliência (3) . O ser humano é capaz de superar adversidades e situações potencialmente traumáticas. Tal processo não é estanque nem linear, pois um indivíduo pode se apresentar resiliente diante de determinada situação e não o ser frente à outra, ou até mesmo não se apresentar resiliente à mesma situação posteriormente. Trata-se de um fenômeno complexo, dinâmico, construído nas interações entre o ser humano e seu ambiente. Essas interações podem promover a cap...