RESUMO: O valor estético dos têxteis, das cerâmicas e do mobiliário de origem asiática tem sido tema de estudo privilegiado em círculos historiográficos específicos, nomeadamente em ensaios e estudos monográficos elaborados por especialistas de história da arte, frequentemente incluídos em catálogos de exposições e em outras publicações periódicas relacionadas com os acervos museológicos, com o património artístico, ou com o restauro e a conservação de colecções próprias. No entanto, apesar do crescente interesse que suscitam em determinados ambientes historiográficos, os objectos asiáticos continuam sendo pouco analisados no seu exacto contexto histórico e social, ou seja, enquanto peças de uso funcional e valor patrimonial, e também enquanto bens de aparato social e de preservação da memória individual e das antigas e actuais casas de família portuguesas. É precisamente a perspectiva da "Índia portas a dentro" -a que encerra as infra-estruturas materiais da vida quotidiana e do acúmulo patrimonial dos interiores de residências seiscentistas e setecentistas, com especial destaque para as colchas indianas -que importa realçar neste artigo. Uma perspectiva que, tendo em conta a carência crónica de têxteis no país, entenda o intercâmbio mais intenso e amplo com os principais centros de exportação têxtil da Europa média para Portugal, no século 15, como um passo natural na procura de têxteis asiáticos que do ponto de vista formal e plástico ofereciam soluções estéticas mais sofisticadas, sobretudo após a chegada dos portugueses à Índia e o reforço de uma rede transcultural e intercontinental de múltiplas conexões económicas e culturais ao longo dos séculos 17 e 18.