Saúde coletiva e psicologia social da práxis: um caminho interdisciplinar como metaformação na pós-graduação

Abstract

RESUMO Este artigo parte da compreensão de interdisciplinaridade como modo de operar face às visões fragmentadas presentes nos processos de produção e de socialização do conhecimento. Objetiva compartilhar reflexões que problematizam a interdisciplinaridade a partir da experiência de formação acadêmica na pós-graduação de um grupo de pesquisa cujos integrantes expressam diversidade de formação e inserção profissional e se debruçam sobre relações entre políticas públicas, saúde e necessidades das pessoas. As reflexões foram elaboradas com base em questões emergentes nos encontros sistemáticos do grupo, que foi tomado como estratégia teórico-metodológica, e sustentadas a partir do diálogo entre saúde coletiva, como campo de saber e de prática, e psicologia social da práxis, formulada por Enrique Pichon-Rivière. O eixo articulador dessa experiência é a formação em sentido amplo que se manifesta pelo princípio de indissociabilidade ensino-pesquisa-extensão, i.e., aprender-investigar-fazer, e como autoformação em um processo mútuo e de ação reflexiva, de aprender a aprender. Nesse sentido, argumenta-se que é metaformação e só pode se dar na perspectiva de diálogos de saberes e interdisciplinares.

Entre a universidade e os serviços de saúde: refletindo a formação em saúde a partir de uma experiência de ensino-pesquisa-extensão com graduandos do curso de psicologia

“…"Formação" tem múltiplos sentidos, usados de diferentes formas na literatura, no dia a dia ou em documentos, seja para fundamentar práticas, para estruturação de serviços que a tenham como objetivo ou para reflexão sobre o desenvolvimento do ser humano (Dejours, 1986;Segre;Ferraz, 1997;Machado et al, 2007;Silva, 2010;Bleger, 2011a;Martin, 2011;Junqueira, 2011;Dominicé, 2012;Capozzolo et al, 2013;Abrahão;Merhi, 2014;Scarcelli et al, 2022).…”

“…Tais aspectos são importantes, mas fixarmos apenas neles pode levar a uma falsa compreensão de que são suficientes para a superação de modelos hegemônicos ou a cair em burocratizações que reproduzam as fragmentações com novas roupagens. A superação de tais modelos inclui o estudo desses aspectos, mas podemos ampliar o debate sobre a formação por meio de reflexões que partem da experiência concreta, tendo em vista suas contradições no campo da formação em saúde, como realizado por Capozzolo et al (2013) e Scarcelli et al (2022).…”

“…Tal inserção facilitou o contato da pesquisadora com a psicologia social da práxis, que "expressa o pensamento de Pichon-Rivière em um esquema que sistematiza um conjunto de conceitos gerais e teóricos, cuja finalidade é dar conta de uma realidade para guiar uma ação sobre ela." (Scarcelli et al, 2022(Scarcelli et al, , p. 1140.…”

“…x serviço, teoria x prática, razão x afeto, rigor científico x experiência, entre outras (Scarcelli, 1998;2017;Scarcelli et al, 2022).…”

“…Consequentemente, consideramos aspectos da história de vida das pessoas, projetos de vida, escolha profissional, criatividade, autonomia, singularidade e responsabilidade perante os processos formativos e as práticas. Todos esses aspectos estão relacionados à formação e, em última instância, à práxis em saúde (Scarcelli, 2017;Scarcelli et al, 2022). A indissociabilidade entre valores, teoria e prática percebido pelas pessoas em seu processo formativo, tal qual afirma Dominicé (2012), é na maioria das vezes desconsiderada quando estamos diante de um processo formativo.…”