RESUMOINTRODUÇÃO: As perturbações psiquiátricas da infância podem persistir durante a adolescência e vida adulta, vindo a ter um impacto negativo e que pode afetar o desenvolvimento e a autonomia do futuro adulto. O presente estudo epidemiológico surgiu da necessidade de conhecer a probabilidade de psicopatologia na infância, na população do primeiro ciclo do concelho de Vila Franca de Xira. Um dos objetivos é permitir, de forma sustentada, aferir as necessidades reais, do ponto de vista da Saúde Mental, da população infantil deste concelho. MATERIAL E MÉTODOS: Participaram neste estudo encarregados de educação e professores de 3063 crianças das escolas do primeiro ciclo do concelho, através do preenchimento do Strengths and Difficulties Questionnaire -SDQ. O tratamento estatístico dos dados foi realizado através do software IBM ® SPSS ® (IBM -Statistical Package for the Social Sciences, versão 21). RESULTADOS: A taxa de resposta aos questionários distribuídos foi de 82,27% nos encarregados de educação e 86,15% nos professores. A probabilidade de existência de psicopatologia nos questionários preenchidos pelos encarregados de educação e pelos professores foi semelhante (respetivamente 14,2% e 13,68%). Não se encontraram diferenças significativas entre a probabilidade de psicopatologia entre géneros. DISCUSSÃO E CONCLUSÃO: Os dados reportam uma probabilidade de psicopatologia que vai ao encontro da prevalência mundial de 12,36%, nas idades abrangidas por este estudo. Este tipo de levantamento epidemiológico é essencial no alerta para políticas de promoção da saúde que assegurem as necessidades na área da saúde mental infantil. Destaca a necessidade de prevenção e intervenção atempada nesta área. A identificação de desvios significativos no desenvolvimento e comportamento infantil poderá ocorrer primeiramente na escola. Os professores revelam-se, portanto, como fonte de informação de enorme relevância na avaliação de situações de disfunção psicossocial, tornando-se imperativo explorar as suas perceções na avaliação de determinados comportamentos das crianças. 7 A criança existe num contexto sociocultural e, não havendo determinismo genético a nível psicopatológico, há vários fatores de risco descritos na emergência de dificuldades ao nível do desenvolvimento psicoafetivo da infância. Estes podem ser intrínsecos, e relacionados com o temperamento e genética da própria criança, assim como extrínsecos, relacionados com o ambiente sociofamiliar da criança. Salienta-se a artificialidade desta dicotomia, uma vez que os estudos de epigenéti-ca vieram demonstrar como o ambiente codetermina a expressão génica, numa influência recíproca gene/ambiente. A patologia na infância existe quando emergem formas de funcionamento desadaptativas e causadoras do sofrimento. 8 As primeiras relações criam um padrão de expectativas na relação da criança consigo e com os outros, os vários contextos podem potenciar certos traços de funcionamento em detrimento de outros. O Homem é intrinsecamente marcado pelo contexto em que nasce e se desen...