Antônio Carlos Robert Moraes afirmou que a crítica à Geografia tradicional empreendida no Brasil durante a década de 1970 é genuinamente brasileira, produto do trabalho de uma nova geração de geógrafos: "Nós-eu, a Fani, o Wanderley-citamos os clássicos diretamente, ou seja, não tem geógrafo que nos oriente. Nós, com a nossa vivência e os fundamentos construímos tanto uma crítica da Geografia tradicional como uma proposição" (Moraes, 2000: 144). Essa afirmação sintetiza uma série de reflexões sobre o chamado movimento da Geografia Crítica. Primeiro, que tal movimento de renovação crítica na Geografia brasileira consolidou-se como uma ruptura metodológica em relação à chamada Geografia tradicional, de cunho positivista e historicista, herdada da tradição da Escola Francesa de Geografia. Segundo, que essa ruptura se empreendeu devido às especificidades da realidade brasileira à época de tal movimento-o período compreendido entre as décadas de 1960 e 1980-referentes ao contexto político do país, que vivia sob os mandos e desmandos de uma ditadura civil-militar. Terceiro, a percepção de que alguns geógrafos se aproximaram do marxismo, escolhendo o materialismo histórico e a dialética como caminhos de interpretação da realidade (Verdi, 2016). Em diálogo com Moraes (2000), a ruptura crítica, ou tal movimento de renovação na Geografia, pode ser analisada como uma leitura originalmente dialética da relação entre sociedade e espaço, de modo a transformar os fundamentos da disciplina, redefinir o seu objeto e a sua démarche teórica. Essa transformação é resultado do