IntroduçãoOs fatores ambientais perinatais parecem ser determinantes das condições de saúde e doença em idades posteriores. Dentro do útero materno, sob a influência da interação entre os genes e o ambiente, o feto sofre mudanças orgânicas capazes de induzir alterações por todo o ciclo da vida, e estas alterações, quando associadas aos fatores ambientais e genéticos após o nascimento, desencadearão novas transformações no organismo. 1 Baseada em estudos epidemiológicos e experimentais surgiu a hipótese da "origem desenvolvimentista da saúde e da doença". Nesta, sugere-se que o desenvolvimento de doenças ou o próprio processo de saúde no futuro são consequências da interação entre fatores pré e pós-natais, o que dá uma ideia de sequência e continuidade da resposta genética às variações ambientais ocorridas durante o ciclo vital, e que serão passados de geração em geração. 2 Sabe-se que a ocorrência de distúrbios do crescimento em qualquer fase da vida e, principalmente, em seu início, pode causar efeitos deletérios à saúde, o que torna a investigação das suas causas um fator importante para a prevenção dos agravos futuros. A proposta desta revisão é discutir as repercussões do crescimento intraútero e do rápido ganho ponderal pós-natal, nas modificações estruturais do organismo, entre elas, o aumento de peso secundário ao acúmulo de gordura corporal observado na infância, adolescência e na idade adulta.
Programação fetal entre geraçõesA contribuição materna na geração da prole começa tão precocemente quanto o próprio processo da sua gestação, pois os folículos primordiais são originados ainda na primeira metade da vida fetal, quando então ficam quiescentes até a puberdade. 3 A influência das informações ambientais, especialmente as nutricionais, são passadas pela avó para a mãe, que por sua vez dará sua contribuição durante a maturação do oócito, ou seja, ainda numa fase pré-concepcional. Estas mensagens serão passadas para o feto que está em formação juntamente com aquelas recebidas nos estágios iniciais da gestação. Este fato é evidenciado, ao se constatar que o peso ao nascer da prole frequentemente se relaciona com o peso materno ao nascimento. 4 A ocorrência deste fenô-meno está de acordo com a ausência de grandes mudanças de uma geração para outra, já que informações da avó são recebidas pela neta.A nutrição materna durante a maturação do oócito é relevante para o feto em formação, informando-o sobre a disponibilidade de nutrientes durante o seu desenvolvimento e, no período de pré-implantação, serão as reservas do próprio óvulo que irão suprir as necessidades energéticas para a multiplicação celular. 5 Todas as instruções são comunicadas ao novo ser muito precocemente, a fim de que sejam ativados mecanismos compensatórios para mantê-lo vivo caso haja restrição das fontes de alimento. Em resposta, este novo ser será "econômico", reservando sempre um pouco de energia.Durante o estágio de pré-implantação o embrião é banhado por uma secreção uterina nutritiva. 5 Após a implantação, o embrião é suprido pela pas...