Humanos e não-humanos: relações múltiplasAs reflexões contemporâneas sobre algumas das facetas das relações entre humanos e não-humanos, particularmente em relação a outros animais, especialmente os primatas não-humanos, revela certas analogias esperadas, mas desconfortáveis, quando colocadas em termos espaço-temporais. Dentre as muitas analogias possíveis, vale enfatizar ao menos três.Uma delas, de forte caráter etnocêntrico, aproxima, por semelhança, populações tribais e rurais a primatas não-humanos em relação a atributos de valor estético, moral ou comportamental e se manifestou fortemente na filosofia, na ciência e nas artes até, pelo menos, o início do século XX (Corbey & Theunissen, 1995). A outra sinaliza a construção de uma dupla alteridade que se expressou tanto em relação às populações humanas quanto em relação a outras espécies. Nesse contexto, foram classificados tanto os humanos que, por bem ou por mal, entraram em contato com europeus e foram sendo dolorosamente integrados, nos últimos 500 anos, à concepções mais universalistas de humanidade; quanto os representantes dos primatas não-humanos e de outras espécies que foram sendo aproximados dos humanos em relação a atributos como sociabilidade, inteligência, pertencimento à condição de pessoa e capacidade de produzir cultura como características reconhecidamente comparáveis às humanas (Asquith, 2011;Ingold, 1994;Rapchan, 2005Rapchan, , 2010Rapchan & Neves, 2005;Stanford, 2001).Por fim, há o segmento que indica uma tendência contemporânea à valorização da pluralidade das culturas humanas e da diversidade da vida animal (doméstica, selvagem, silvestre) desde que isso não afete interesses ou valores dominantes. É uma espécie de panuniversalismo nominal que ainda precisa reconhecer e lidar com os conflitos advindos das