O Ferro suplantou tecnologicamente o bronze tanto em seu uso como nas técnicas de obtenção; foi um dos marcos mais importantes da evolução de nossa espécie. Os que aplicam a metalurgia ao Ferro, os ferreiros, são, segundo o historiador Mircea Eliade, “o principal agente de difusão de mitologias, ritos e mistérios metalúrgicos”, remodelando e ampliando significativamente as crenças anteriores. O mesmo autor afirma ainda que “a Idade do Ferro vitoriosa, cuja mitologia, em grande parte submersa, ainda sobrevive em tradições, tabus e em sua maioria superstições insuspeitas”. De fato, o deus de maior prestígio na arte alquímica na Idade Média, assim como Hermes, era o coxo e ferreiro Hefesto. As ferramentas também participaram da sacralidade. Alguns dos principais deuses que habitaram o panteão de diversas culturas que desenvolveram a metalurgia eram ferreiros ou dominavam instrumentos de Ferro, quase sempre armas. No século XX, a humanidade precisava de um novo mito do ferreiro. Ao mesmo tempo, o mundo industrializado entrou na era de ambivalência. À medida que a tecnologia afetou mais aspectos do nosso cotidiano, a desconfiança em seus efeitos colaterais e consequências não intencionais alimentaram a perda de confiança na compreensão do progresso tecnológico, e o Ferro é até hoje um de seus maiores símbolos. O Homem de Ferro, criado por Stan Lee em 1963, está entre as lendas modernas que melhor representam essa ambivalência atual e o legado de tradições arcaicas.