O presente artigo tem como objectivo apresentar algumas perspectivas etológicas acerca das primeiras relações entre pares. De inicio são discutidos os trabalhos da década de 70 sobre a hierarquia de dominância em crianças de idade pré escolar. De seguida é discutido o conceito de afiliação e em particular os estudos sobre a identificação das estruturas afiliativas em grupos de crianças no pré--escolar. Face às dificuldades encontradas com a interpretação dos sociogramas comportamentais é apresentado uma alternativa de identificar subgrupos de crianças com perfis de afiliação e a evolução deste tipo de metodologia. Finalmente, discutem-se possíveis pontes entre os conceitos de afiliação e dominância.Palavras-chave: Afiliação, Dominância, Etologia Humana.
PERSPECTIVAS ETOLÓGICAS ACERCA DAS PRIMEIRAS RELAÇÕES ENTRE PARESDurante a maior parte do século XX, estereótipos, quer populares como científicos, sobre o desenvolvimento da criança sugeriam que, em particular entre os 30 e os 72 meses de idade, as relações entre pares eram infrequentes, breves, muitas vezes competitivas e/ou agressivas e, em última instância, inconsequentes. Os adultos (i.e., pais, familiares, cuidadores sem relação de parentesco) eram considerados como as fontes primárias de socialização das crianças, os pares em termos de idade eram, pelo contrário, considerados como tendo nenhuma ou muito pouca influência até á entrada na escolaridade formal (entre os 5 e os 7 anos de idade). Estes estereótipos eram sustentados, em parte, pelo facto da vasta maioria das crianças ter sido criada nas suas residências por familiares, normalmente pelas mães, e não ter sido tipicamente inserida em culturas de pares até à escolaridade primária.