ResumoA investigação aqui apresentada analisou e interpretou uma experiência pedagógica de Educação Física na creche. No percurso metodológico valeu-se de diversas ferramentas de base etnográfi ca (observação participante e registros em caderno de campo) e nos referenciais teóricos dos Estudos Culturais. O trabalho pedagógico desenvolvido, ao abordar e problematizar as lutas por legitimidade que permeiam as práticas corporais, contribuiu para potencializar as vozes das crianças, ampliando as oportunidades de reconhecimento das diferenças e promovendo o estabelecimento de relações sociais mais democráticas.PALAVRAS-CHAVE: Educação Infantil; Educação Física; Cultura; Identidade.Qualquer pessoa que circule pelo pátio, salas ou corredores de uma instituição de Educação Infantil provavelmente deparar-se-á com grupos de crianças envolvidos em danças, mímicas, brincadeiras ou cantigas. E por que isso acontece? Ora, essas práticas corporais 1 são formas de expressão da vida e da realidade variada em que vivem as crianças. Como artefatos culturais, comunicam valores, expressam sentimentos, cultuam subjetividades e significados, ou seja, contribuem na constituição da identidade dos sujeitos.Apesar disso, as instituições priorizam uma forma de expressão vinculada aos usos escolares e que serve à reprodução de determinados conteúdos mediante sua transmissão, repetição e avaliação. Enquanto nos momentos livres as crianças empregam outras linguagens para ler e dizer coisas sobre si e sobre o mundo, nas tarefas escolares se encontram cercadas não apenas pelas amarras de uma forma única, mas também, pela previsibilidade dos sentidos possíveis 2 . Descobrir outras linguagens, estabelecer formas não danifi cadas de interação com as crianças e recriar o tempo e o espaço dos ambientes educacionais são desafi os postos para a educação da infância. Por essa razão Richter e Vaz 3 sugerem que a Educação Física se ocupe do debate e da reflexão acerca das práticas corporais, para que possa contribuir para uma formação humana que revele novos gestos de aproximação corporal e estética, outras possibilidades de ação, de comunicação consigo, com o mundo e com o outro. Muito embora a literatura consultada advogue a favor de uma Educação Física infantil baseada na refl exão pedagógica da cultura corporal, são bem raras as instituições em que isso acontece. Foi o que fez surgir o interesse de descrever e analisar uma experiência pedagógica realizada junto a uma turma de crianças pequenas, em que a professora responsável problematizou a ocorrência social das manifestações produzidas pela linguagem corporal.Quando a linguagem corporal é reconhecida como modo de expressão e comunicação, o espaço pedagógico da Educação Física é o lócus de apropriação da variedade de formas pelas quais a cultura lúdica se expressa. Ou seja, as atividades pedagógicas precisam contribuir para alargar a compreensão que as crianças possuem acerca da realidade em que vivem e para abrir caminhos para uma participação mais intensa no mundo.