curatorial se notabilizou tanto por destacar as variadas linguagens artísticas em que atuou a escritora mineira quanto por efetuar um diálogo expográfico de suas obras com outras produzidas por mais de seis dezenas de artistas negros brasileiros contemporâneos 1 .Além das imagens em que Carolina de Jesus aparece fotografada, ali estavam expostas três fotografias de diferentes temáticas. Uma foto é de autoria da fotógrafa branca Rosa Gauditano, nascida em São Paulo, na qual se veem faixas seguradas por manifestantes numa marcha do Movimento Negro Unificado (MNU) em São Paulo, pela passagem do dia da Consciência Negra, que, naquele ano de 1978, quando a foto foi tomada, se consolidava como efeméride festiva e de lutas de abrangência nacional.As outras duas fotografias foram produzidas pelo fotógrafo negro baiano Lázaro Roberto Ferreira dos Santos, criador e integrante do Zumvi Arquivo Afro Fotográfico, em Salvador 2 . Uma das fotos da autoria de Lázaro é também de uma marcha do MNU, já nos anos 1980, em que os manifestantes igualmente seguravam faixas com escritos. Entre elas, uma se destacava pela famosa inscrição: "A princesa esqueceu de assinar a nossa carteira de trabalho", em referência à contestação pública da memória da Princesa Isabel como protagonista da abolição da escravidão no Brasil -um tema de disputa entre o Estado e os movimentos negros ao longo dos anos 1980, às vésperas do Centenário da Abolição, em 1988. Entre os integrantes do protesto que aparecem na imagem, estava a professora Ana Célia da Silva, líder histórica do MNU na Bahia, e seu irmão -o fotógrafo, educador, jornalista, radialista e poeta Jônatas Conceição da Silva.Na outra foto, também de autoria de Lázaro Roberto, vemos um letreiro de pichação com a contundente pergunta: "Por que a PM [Polícia Militar] só mata preto?", datada A fotografia negra contemporânea em exposições de arte brasileiras Artelogie, 19 | 2023